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| Poesias-->Manuela (III) -- 09/12/2004 - 08:55 (José Ernesto Kappel) |
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Agora que a tarde
se bruma e, em tédio,
escorrega pelas mãos
como pêssego lavado,
pergunto ao próximo
que não me escuta,
pergunto nas esquinas
onde não estou,
pra onde foram
o pajém,o cordão de ouro,
a caixa de música
e os rascunhos de
boa memória.
Dizem,foi com
o dono embora,
levando minha idade,
quem morreu ontem por lá,
o dono da carrugagem
e a boa linhaça da juventude.
Sei que o vôo é curto
e de ouro não é.
Sei que já não há mais
manhãs para entrar,
nem noites para percorrer.
Me deixaram no córrego
como uma cortina em trapo.;
deixaram uma foto sem dono
ela no centro fogosa,
ele do lado
parecendo meio-bordel.
E carreguei quatro vidas
Uma delas foi a outra
que nasceu curta,
cheirando jasmim
e barganhando bonecas.
Mas dela também me tiraram
e nem perguntei porquê.
Cem anos se foram e eu roçando
a sombra
como um pardal cansadiço
e loquaz em seu canto.
Pela porta do tempo
tudo corre solto
uns pedem para entrar
outros se vão sem saber.
O dono levou-a embora
de charrete e de meia-idade,
foi ajudado a viver
pelo mordono de bons dotes.
Hoje se quiserem lá me encontrar,
tragam bastante vela
e um pouco de vinho forte.
Lá estou eu,
igual à meia-noite
procurando a vida
que se foi de charrete.
Mas estou lá,
igual a um rei de horas curtas.
Digo que espero e espero.
Pois desta vez me fizeram um rei,
sem dueto e princesas,
Mas espero a outra vida me chamar
e dizer:
- Aquela sombra,
vai lá!
Mata o sonho e
acorda quem te fez noite.
Não morre mais sem bandeira,
sem troco e sem vintém.
Acorda agora e vai
para outros cem anos
de nova vida.
E diga: Manuela,
pára o roçado!
Chegou seu dono,
mil e duzentos
anos e anos,
muito depois!
Acorda,
Chegou o malaquês
perguntando por Manuela! |
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