O CARTEIRO
MARIA DA GRAÇA ALMEIDA
O carteiro chega ao portão,
bate-me forte o coração,
pergunto-lhe logo assim:
-Trazes carta para mim?
-Há um envelope pequeno,
com teu nome escrito a tinta,
parece-me carta de amor.
-Entrega-ma, por favor!
-Talvez não tenhas tempo
de vê-la neste momento,
deixa-a para mais tarde.
-A ansiedade me arde.
-A carta é muito miúda,
a letra, veja, é pequena,
poderás não a enxergar...
- Leio-a até a duras penas.
-Perdoa-me a pouca fineza,
estou tão envergonhado,
realizei certa proeza,
deixa a tal carta de lado!
-Em tua bolsa a detinhas,
porém a carta é minha!
Coloca-a neste lugar,
não me faças esperar!
-Desculpa-me, senhorita,
em meu peito a dor é fina,
esta carta, sim, é tua,
porém, a letra é minha!
Nela está o meu amor,
pois de ti sou encantado
e é tão constrangedor
um carteiro apaixonado.
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