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 | Infanto_Juvenil-->A chuvarada -- 05/09/2013 - 03:46 (Brazílio) |  |  |  |  |  |
 | A chuvarada que caía era aquela bênção. Plantas molhadas, o cheiro gostoso da 
 água na terra, o ruído amistoso dela também escorrendo pelas telhas e o eventual
 
 copo dela, tomada escondida, sabendo a barro.
 
 Da janela, se não houvesse ventania, a gente mirava as galinhas, estáticas,
 
 escondidinhas onde podiam, algumas chegavam até a enfiar a cabeça debaixo
 
 duma das asas para melhor se protegerem. E com pouco éramos nós também que
 
 íamos da euforia inicial àquele abatimento com a água torrencial. Sem o recurso
 
 das galinhas e ainda sem a coragem desobedecer as ordens domésticas pra meter
 
 o pé nas poças de barro e desafiar as enxurradas, restava a tentativa de atenção
 
 à alguma revista ou livro já surrado de conhecido, rabiscar desejos de desenhos
 
 num papel de embrulhar pão, e a inquietude, quase prece, pra que a chuva logo
 
 passasse. Já tinha valido a bênção.
 
 Mas aí, por vezes, voltava a animação: era papai chegando da rua, todo
 
 enfarpelado com suas galochas, o guarda-chuva preto e cheio de novidades,
 
 mesmo das mais comezinhas que fossem.
 
 O guarda-chuva, que ele teimava de chamar de guarda-sol, ia prum canto,
 
 geralmente nalgum ponto de saída, e lá fechado, encostado, ia soltando aquele
 
 jorro grosso, feito um mijo, que gradualmente se afinava, mas nunca parecia
 
 secar de todo de todo. Com pouco era hora da bóia. Alguém tinha se lembrado de
 
 recolher a lenha?
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