Ele chega de mansinho, dá uma olhadinha. Vai embora. Penso que está curioso para saber o que é que eu faço parada ali dentro... E eu nem ouso dizer que é por sua causa, quero que ele chegue mais perto. Será que ele teria coragem? Ah! Eu bem que gostaria de fazer-lhe um carinho... mas parece que ele lê meu pensamento e foge!
A fuga, porém, não dura muito, logo está de volta e põe-se a olhar, olhar... Eu nem me mexo, fico paralisada a olhar também, tenho medo de espantá-lo e perdê-lo de vez. Agora, com ele tão perto, cuido para não dar nem um pio. Ele, ao contrário, resolve se mexer e dá umas batidinhas na janela. Será que procura conversa? Melhor eu ficar de bico calado e esperar pra ver no que vai dar.
Observando seus movimentos delicados, às vezes até agitados, percebo que não está nem aí pra mim. O que o atrai é o reflexo ali no vidro expresso. Não que seja narcisista, não é de sua natureza. Ignorando ser a sua imagem o que ele enxerga, pensa estar diante de um semelhante. Quem sabe o companheiro ideal para costumeiros voos aventureiros. Os dois de peninhas amarelas a bater asas juntos pelos céus...
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Texto inspirado na foto de um passarinho a olhar na janela do carro.
