SOU SEU ESPELHO?
- Até que enfim, Fernanda. Chegou a hora de conhecermos o planeta de que falavam tanto. Finalmente vou ficar livre dos seus pezinhos no meu rosto. Quem será que o médico vai ‘tirar’ primeiro? Tomara que seja você. Ouvi umas vozes lá fora. Tive impressão de que elas tremulavam de frio. Eu não sei bem o que é sentir frio. Você sabe? Pelo tom de voz acho que não é muito bom não! Aqui está tão quentinho!
- Também acho, Carolina, que o mundo lá fora não vai ser tão aconchegante, mas como está cada vez mais apertado por aqui, creio que o nosso tempo de nascer está próximo. Então, olhe bem para mim: “Você acha que sou seu espelho?” “Eu olho para você e vejo um pouco de mim aí. Você também se vê aqui? “
- Bem, Fernanda , somos semelhantes sim. Aliás, praticamente cópia uma da outra. Na aparência, posso até me ver em você. Mas não se esqueça do que vou dizer agora: EU sou EU e VOCÊ é VOCÊ. Sempre será assim. Na essência, seremos sempre diferentes.
- Ora, Carolina. Quem disse isso fui eu. E já faz algum tempo... Você se lembra quando expliquei o que era essência?
- Eu era tão pequenininha, Fernanda, não me lembro mais.
- Essência, Carolina, é o que você tem de singular. O que você traz em seu coração. Enfim, é o que a torna diferente de qualquer outro ser deste planeta.
- Complicado, não Fernanda? Eu sou a sua cara, tenho o mesmo DNA, no entanto, não sou você. Essa história me confunde um pouco. Não confunde você?
- Ei! Fernanda, você ouviu o que eu disse? Aonde você vai? Chegou o dia? Chegou a hora? Fernanda, espere! Não me deixe aqui sozinha. Sou menorzinha, ainda não estou tão forte quanto você, mas quero ir também. Não foi o que combinamos? Eu por você, você por mim e TODOS por NÓS!
- UFA, chegamos!
Heleida (vovó), setembro de 2006
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