A mãe andava doente e gastava muito com remédios. Era dezembro, eu e meu irmão nem falávamos em Natal.
Um moço chamado Miguel telefonou. Ela devia comparecer urgente no Foro. Nenhum de nós dois disse nada. Ficamos tentando fazer o dever de casa.
Ao entardecer, ela chegou comemorando:
"Eu tinha uma ação trabalhista há dez anos. O advogado ia se apropriar do dinheiro, mas perdeu a autorização entre papéis sobre o balcão. O Arcanjo Miguel a encontrou. Ele disse que muitos advogados faziam isso, mas quando as pessoas lesadas eram professoras ele avisava". Brincou ela que nem acreditava em anjos.
Perguntou que presente nós queríamos e estipulou um valor máximo que nos deixou atônitos: compramos nosso primeiro computador, naquela época um sonho de luxo.
Vera Ione Molina
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