A tia-madrinha convidou Danilo para almoçar em sua casa. Tinha feito dobradinha e o menino estava se regalando de tanto comer. Era muito esperto e seus três anos de idade se perdiam em seu tamanho. Terminada a fome, pediu:
- Tia, você me dá uma muda desse pé-de-bucho?
A COBRA
Felipe, três anos incompletos, vê, pela primeira vez, uma cobra:
_ ‘Tadinha’ dela!
_ Por quê, Felipe?
_ Ah, mãe! Ela não tem pé...
E logo a seguir:
_ Por que ela não tem pé?
BONGA OU PETTY?
Ana Beatriz tinha uma cachorra. Petty. Um dia, Petty morreu. Atropelada. A menina se assustou, chorou. Mas enterrou as lágrimas junto com o animalzinho. E logo depois, ganhou outra.
- Que nome vai ter, Ana?
- Acho que vai chamar Lili.
- Então, está bem, é Lili. Bom-dia, Lili!
- Não, ela não tem cara de Lili. Acho que vai ser Petty mesmo...
- Não, filha, Petty não pode... a Petty morreu...
- E Lassie, pode?
- Lassie pode. Vai ser Lassie?
- Não, ela não gostou do nome. Olha a carinha dela!
- Qual então?
- Bonga!
- Certo. Bonga é um nome lindo, diferente. Bom-dia, Bonga!
Bonga ficou. Mas esses dias, brincando um bom pedaço de tempo com a cachorrinha, Ana deixou escapar:
- Olha, neném, pra mim você é Petty, viu? Mas perto dos outros, que eles não podem saber, só vou chamar você de Bonga, tá bom?
A PEQUENA PROFESSORA
Andréa, oito anos, ouve a avó contar uma história. Atenta aos detalhes, vai corrigindo cada palavra errada:
- Vovó, não é “nóis vai”.
- Vovó, a senhora falou errado. Não é “galfo”, é garfo.
A senhora simples limita-se a concordar com a cabeça e a dizer:
- Isso, “fia”, ensina “memo” a vó a “falá” “dereito”.
E a menina, indignada:
- Só por Deus, só por Deus...
ETERNIDADE
Renan encontra Júnior, de três anos recém completados, e cumprimenta:
_ Oi, Juninho! – e mostra a fileira de dentes iguais num agrado ao pequeno primo.
Parecia um adulto adulando um bebê de colo. E olha que a diferença de idade nem é tanta assim. Bem, talvez para quem tenha apenas quatro anos, seja uma eternidade.
A NAMORADA DO TIO
A família toda conversando ao redor da mesa:
- Então, tio, lembra da Isaura, aquela que o senhor começou a namorar na festa do casamento da Márcia?
- Isaura? Ah, sim, lembro.
- Pois é, sabe que ela ainda continua solteira? E está acabada, velha, enrugada.
- É mesmo?
Marcelo, sete anos, arregala uns olhos enormes e ajuda:
- Ela tá velha mesmo, tio. Quando ela namorava o senhor, eu bem me lembro, até que era bonita, mas agora...
Acontece que Marcelo, naquela época, nem era nascido...
A TETA
Eduardo, cinco anos, olha bem para a tia-avó e exclama:
- Nossa, tia, você tem uma tetona, né!
A mulher fica sem graça, o rosto avermelha, desvia o olhar.
E o garoto:
- Olha, mãe. Olha o tamanho da teta dela!
A DIFÍCIL TAREFA DE ATRIBUIR UM NOME...
Fernando ganhou uma irmã. A mãe, querendo evitar a comum ciumeira, resolve deixar a cargo do pequeno a escolha do nome:
- Fernando, que nome você vai escolher para a sua irmã?
- Que tal Ernestina?
- Ernestina, filho? Não acha um nome estranho? Olha bem o rostinho dela...
- É... pensando bem, preferia Felisbina, ou Josefina, ou Cremilda...
PRESENTE DE GREGO
Briga. Ninguém fala com ninguém. Estão de mal. Eliane sentada no meio-fio do outro lado da rua. Bruna dentro de casa. Olhares atravessados.
Eliane vem pedir desculpas. Traz uma bala. Bruna aceita:
- Olha, só por isso vamos ficar de bem.
- Tá bom. Mas abre a bala.
Um “cavalo de Tróia”... uma pedra embrulhada. Mas agora era tarde demais para não se deixar levar pela chantagem... e a amizade subsistiu.
A HISTÓRIA DA MUDANÇA
Matheus, oito anos, nunca resistiu à conversa dos adultos. Atento à história da mudança, não pôde deixar de se manifestar:
- Foi o Lucas quem arrumou tudo, minha mãe não fez nada. E ela até ficou brava porque ele quebrou um prato.
O irmão quinze anos mais velho sorri, sem graça. A mãe desconversa... menino intrometido...