Vivia triste e acabrunhado pelos cantos da casa. O barulho o incomodava, mesmo o som de alguma música.
Fora criado, desde o berço, com a casa silenciosa. E era protegido de tudo e contra todos. Até que um dia, ao chegar à idade escolar, teve de conviver com outros meninos. Era um mundo agressivo, muito agitado para o menino que havia sido criado numa “bolha de silêncio absoluto”.
Problemas surgiram. E os pais, tão meticulosos, não sabiam onde é que “haviam errado”, se tudo faziam para poupar aquele ser tão frágil de amarguras e admoestações.
A terapia familiar fez-se necessária, para vasculhar o que provocara aquele comportamento inesperado do “Reizito”.
Diante das informações paternas de que o rebento nunca fora maltratado em casa, nem um tapinha sequer havia experimentado, pois nunca houvera chance de cometer algum deslize, nem as mãozinhas ele sujava quando comia, por ter a babá sempre a alimentá-lo na boca... A terapeuta, então, deu seu veredicto:
“Levem-no para casa, abram as janelas para entrar o sol, dêem-lhe um cachorro ou um gato pequeno, para que ele cuide e deixem que se suje à vontade, na terra... Que tome chuva e sol para se resfriar e ficar com o nariz escorrendo, entre espirros e tosse. E, se ele se revoltar, ensinem-no a xingar e descarregar a sua ira... Contra vocês dois, que foram a causa única de seu desajuste social.”
Amargurados e cabisbaixos, os pais saíram do consultório. Chovia fino e a primeira providência que tomaram foi correr junto com seu reizinho, pela praça, mostrando-lhe todo o encanto do mundo do som e da “sujeira”.
No primeiro resfriado, teve febre de quarenta graus e uma pneumonia galopante.
Mas, sobreviveu.
Hoje, é dono de um colégio infantil, onde os pequenos clientes têm uma área verde, cheia de pássaros e terra para brincar e criar, nas horas vagas, utensílios de argila, onde as formas mais variadas chamam a atenção na exposição anual dos trabalhos infantis daquela