TRAPIÁ FICA EM TREPAEMPÉ
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Trapiá é uma pequena cidade do estado do Pará. Possui 1350 habitantes, dados do último levantamento feito pelo governo federal
A Fazenda Trepa-em-pé fica a uma légua de Trapiá.
O local é banhado pelo rio Passa-e-Fica que mais à frente faz a divisa entre as duas cidades, Trapiá e Timbó. Há uma cerca que separa as duas maiores fazendas da região, trepa-em-pé e Fiofó da Velha.
O lugar é favorecido pela natureza, o clima e a hidrografia são os destaques. Há 50 anos as duas cidades eram dois pequenos povoados, Takuku de cima e Takuku de baixo e pertenciam a capital Belém.
Cara-de-boi é o capataz da fazenda Trepa-em-pé. O nome verdadeiro do administrador é José Alcebíades.
O fazendeiro Jacó Tertuliano, além dessa fazenda é proprietários de outras no estado, e apenas as visita periodicamente.
Cara-de-boi é o responsável pela administração de Trepa-em-pé, com total liberdade para contratar, demitir e realizar o que for necessário para o sucesso da administração. Tem total apoio do patrão e apenas lhe presta contas uma vez por mês, exceto se houver alguma urgência, é que faz contato.
Tertuliano tem seu administrador como pau para toda obra, é um homem de sua total confiança. Apesar de pouca leitura é um autodidata, é dedicado ao trabalho, perspicaz e inteligente. Vive apenas para o trabalho.
Antes, bastava alguma propriedade não está dando o resultado esperado, sem produzi como deveria ou quando o patrão comprava alguma propriedade que queria mudar a sua estrutura administrativa, Tertuliano logo fazia a intervenção e convocava seu pau-para-toda-obra e mudava tudo com a presença e a marca de Cara- de-boi.
Ultimamente, o administrador após refletir bastante arriscou e fez um pedido ao chefe, por conseguinte foi aceito. Em nome da sua fidelidade recebeu o reconhecimento e retribuição.
Está ficando velho, não gostaria de sair mais dali para outro local, ele gosta muito de trepa em pé.
Sobre este homem desconhecido havia uma pessoa de poucas palavras, de personalidade forte, frieza e pragmatismo, trabalhador contumaz, possuidor de um olhar duro que fere quem o tenta enganar ou lhe fazer o mal. Olha como se lesse o pensamento, a pessoa se começa a se justificar, se trai e se auto acusa. Há algo de lendário que lhe atribui também àquele olhar, dizem que ele tem poder em seu olhar, que até cobra quando ele a encara, foge em disparada. Que ele amansava burro, boi, cavalo brabos, cachorro; os adestra e deixa mansinhos com o exercício do seu olhar
Pouco se sabe sobre sua origem, mas o que se fala é complexo e quem o diz, fala escondido, porque teme as consequências. Por esse motivo 2 homens desapareceram e atribuem a ele este feito, sumiu um de cada vez. O que o leva à suspeição é que ambos viviam falando sobre seu passado e de histórias sobre sua família; enfim do que ele não gosta, não permite e não quer nem ouvir falar, sua vida particular. Ele tirou a limpo e resolveu a seu modo: esfaqueou, retalhou e deu para os cães pedaço por pedaço, até o último testículo.
O primeiro quando foi interrogado por ele negou, mas titubeou, hesitou, se enrolou e ele percebeu que tinha culpa no cartório...deu no eu deu! Este dizia que ele era filho de bichos, de animais da região. Do cruzamento de galinha com bode ou de raposa com gato. É que a aparência dele era realmente estranha mesmo.
O outro confirmou que não estava mentindo nem inventou nada, apenas repetiu o que havia ouvido falar, e que a pessoa que lhe contou era alguém de confiança, só não quis dizer de quem se tratava, mas teceu bastante elogio e fez várias reverências, que pelos elogios, confiança e excesso de cuidado, até dava para desconfiar que seria o patrão, o fazendeiro Tertuliano, a pessoa que se referia. Mas cara-de-boi sequer quis imaginar ou passou pela sua cabeça esse tipo de pensamento; o patrão é uma pessoa sagrada para ele, é alguém de sua mais alta confiança. Ambos se gostam, se respeitam e não havia por que desconfiar de nada que viesse da boca de um peão falador que merecia seu castigo certo.
O primeiro homem, de nome Zé-pai-de-chiqueiro, que negou o que lhe atribuíram, contou que o chamavam de cara de boi porque ele era filho de um cruzamento com um boi. Realmente olhando bem, ele lembrava mesmo um boi. Dizia que sua mãe era uma exímia tiradora de leite, e um dia após cumprir seu trabalho, um touro a derrubou e ela desmaiou. Quando acordou estava toda arranhada, dolorida. Foi aí que percebeu que havia sido estrupada pelo animal. E 9 meses depois nasceu cara-de-boi...falam inclusive que ele tem duas saliências no alto da cabeça, na testa e que por ser filho de gado com gente era mocho.
Esse touro era um animal valente, já havia matado duas bezerras e outro touro. Ele era o dominador, o garanhão do curral, de manhã tinha que estarem disponíveis pelo menos umas três garrotas para cruzarem com ele, ou então saia em disparada, enfurecido, espetando o que encontrasse a sua frente. Já havia tentado pegar uma moça que trabalha na cozinha da casa grande da fazenda, por sorte foi dominado por um vaqueiro com um tiro de raspão para assustá-lo.
A cabeça de cara de boi era como se tivessem degolado um boi e posta a mesma colada a um tronco de um ser humano, tipo aqueles bonecos de pau do Carnaval de Recife e de Olinda. Ele era musculoso, troncudo, tinha 1,99 m e pesava 100 kg. Era como se dizia ali na região, um sarará que vivia exclusivamente para o trabalho. Não era casado, nunca se soube de relacionamento íntimo com nenhum ser humano. Quando queria extravasar seus desejos ia para o mato e pegava um animal e o comia vivo; Em geral era uma galinha, uma jumenta, uma cabra, burra ou uma égua. Galinha que era usada para aquele fim, morta depois e em seguida comida nutritivamente. Ele evitava galinha e cabra, só em último caso, pois faziam muito escândalo e chamava a tenção. Tinha um episódio interessantíssimo que uma pessoa viu e por sorte depois com uma segunda como testemunha, de novo ocorreu e viram juntos. Por isso era chamado por alguns de Touro Encantado. Ele preferia usar uma bezerra e por isso mesmo se confirmava ter parentesco com gado...os que viram se dá a ocorrência disseram que ele iniciava o ato e rapidamente aparecia um aro colorido que ficava circulando sobre ela, girando no sentido cabeça aos pés, depois um segundo círculo de outra cor, mais um, outro; enfim um arco-íris em alta velocidade e ele se transformava em touro e mugia penosamente mu, muuuuu.
Essas e tantas outras eram as histórias que contavam a respeito da origem familiar dele e o porquê de seu apelido, que até o momento nunca se confirmou nada sobre a sua vida familiar. Além disso, Pai-de-Chiqueiro contou que a família dele era muito estranha. O pai virava lobisomem e que muitos já o havia visto ou ouvido seus urros pela madrugada. É que ele tinha um incesto com a filha mais velha, Severina, a donzela; irmã de cara de boi.
Já o que o que João Miúdo falou e confirmou ao ser questionado é que ele era filho de um marciano.
Ali em trepa-em-pé havia um área em destaque, mais plana, a vegetação nascia por igual até certo tamanho limite, diziam que no passado um disco voador esteve naquele local e que durante a partida levou 2 mulheres, uma delas foi Dona Ras Putina, a mãe de Cara de boi. Pousou, levou as mulheres e as trouxe grávidas. O outro que nasceu seria filho de uma senhora conhecida como Vulvanilda Pedreira, esse parecia com leão e assim seu nome era Cara de Leão. Outra história interessante era que ocorria em noites de chuva com fortes trovões e relâmpagos ali perto, às margens do rio Tirarucu, ouvia-se choro de bebê recém-nascido, daí alguns chamarem o local de chora neném. Portanto havia algo misterioso a se explicar e por isso Cara de Boi também entrava nessa trilha de investigação. Diziam que meninos nasciam do nada, quer dizer, do tudo, ou sejas da mistura de girino das pedras, das águas do rio, dos trovões, dos raios, do vento e da noite. O que chamava a tenção para esse fato era que realmente naquela região quase todas as pessoas, não se sabia a origem delas, eram únicas, não havia parentesco de ninguém, e que crianças apareciam já grandes, quase sem falar ainda, vinham não se sabe de onde, crescia por ali, virava trabalhador rural e tocava a vida pra frente.
Chegou até a comunidade científica de Harvard esse fato e que naquela região as pessoas se pareciam com animais, cara de peixe, cara de leão, cara de onça, cara de mosca, cara de muriçoca.
Na Harvard Medical Scholl havia alguns brasileiros que trabalhavam com pesquisas avançadas sobre constituição e transformação celular. Dr, Liduíno Casagrande e Dra Vaginalda Serrapau chefiavam um desses grupos de estudo. Dr. Liduíno era paraense e estava visitando a família de férias quando viu através de uma reportagem o comentário sobre um capataz de uma fazenda, no estado do Pará, sua origem, seus hábitos, e no final o repórter até concluiu com humor sobre o seu olhar, que o repórter o denominou sorrindo de “olhar de Naja”. A brincadeira foi a parte mais séria que chamou sua atenção. Dizia o repórter que havia muita lenda sobre o olhar de cara de boi, falavam que além de espantar cobra e colocá-las para fugir, ainda amansava e domesticar animais e, no escuro, na ausência completa da luz artificial, seu olhar iluminava um raio de até 3 metros ao seu redor. Ficava a dúvida se era algum feitiço ou se havia algo de especial na constituição dos seus olhos. Como na HMS (Harvard Medical Scholl) havia uma pesquisa sobre algo dessa natureza, semelhante ao que se passava numa comunidade americana, foi feita uma solicitação ao Consulado americano para pedir autorização ao governo brasileiro para que a Universidade Federal do Pará em colaboração montasse uma equipe para realizarem a pesquisa conjuntamente, Harvard Medical Scholl e a UFPA.
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