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Humor-->O meu fraternal/literal terapeuta -- 14/11/2008 - 18:26 (Fernando Werneck Magalhães) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
“Back from Britain” em 1977 – em pleno regime militar, portanto – eis-me de volta também ao Ipea, sabendo tudo sobre marxismo matemático. Isso deve ter confundido muito a elite esquerdista dessa instituição (também da elite). Além disso, eu carregava a pecha de, conforme confidenciei (para todo o planeta) numa crônica anterior, ter sido reprovado (talvez injustamente, o que, entretanto, aqui não vem ao caso) no “Final Year”.

Mas, no ano seguinte, me saí tão bem nos exames que surpreendi não só o Prof. Morishima (meu recém-falecido tutor), mas a própria rainha Elizabeth, que se julgou, muito justamente, na obrigação protocolar de receber-me, em traje de gala (eu, sempre de calça jeans!), nos magníficos jardins do Palácio de Bukingham, ocasião em que dialogamos durante duas horas em inglês shakespeariano (pois é o único que o imbecil aqui conseguiu aprender a balbuciar – o que fê-lo bárbaro!)

Como nesse mesmo ano de 1977 se comemorava o seu (dela) Jubileu de 25 anos de reinado, aproveitei os meus quinze minutos de fama para exigir-lhe que pusesse à minha disposição toda uma composição de trens – por questão de modéstia búdica, decidi, na 25ª. hora, ocupar-lhe apenas um dos vagões – que me deixasse, “home and dry”, isto é, seco, ou, por extensão, a salvo, em Édimbra, vulgo Edimburgo.

E esta, de fato, revelou-se uma decisão acertada, pois nele couberam os meus 500 livros de literatura talmúdica, que recém afanara de uma mesquita taoísta e que pretendia estudar desesperadamente durante essa viagem. Agora, por que ir à Escócia? Simplesmente, por uma questão de amizade, pois eu queria visitar dois amigos virtuais que lá viviam e com os quais me correspondia desde meados do século XVIII.

Um deles, o Smith, vulgo Adam, ganhou fama com a sua metáfora do cervejeiro, cuja equivocada exegese redundou na criação do neoliberalismo, que, diga-se de passagem, é mui injustamente difamado. Só porque a sua aplicação no Brasil acabou com o emprego e difundiu a guerra civil branca (às vezes, avermelhada – não no sentido político, mas também no pictórico)?! Injustiça! Injustiça! Incompetência! Protesto – sempre em vão!

O outro era Hume, o David – grande ateu e benfeitor da humanidade, cujo pináculo de glória foi, depois de sagrado Cardeal da Irlanda, ter toda a sua vasta obra filosófica anatematizada pelas autoridades religiosas de então. Quem fosse surpreendido lendo escondido no banheiro – seja os seus “Dialogues Concerning Natural Religion”, seja os “Essays (Moral, Political and Literary”) – estava sujeito a ser empalado (que, como sabemos todos, quase aconteceu, na Idade Média, a Brancaleone e seu incrível exército), tortura essa que, convenhamos, seria hoje considerada, por muita gente boa, bem menos cruel do que a crucifixação romana.

Na situação lamentável, portanto, em que me encontrava ao retornar a Brasília, considerei retornar às minhas origens, isto é, à ex-Cidade Maravilhosa de São Sebastião, onde poderia enriquecer o meu anedotário e talvez a minha pobre matemática fosse menos execrada pelos colegas do Ipea.

Também lá, contudo, fui de início recebido a pontapés, mas, logo em seguida – penalizados talvez pelo lamentável estado das minhas já referidas calças jeans –, foi-me apresentada uma proposta de trabalho – aos berros!, que, sendo dissonante, achei por bem considerar inaceitável, dada a extraordinária sensibilidade do meu vestíbulo labiríntico, bem como minha indecente preocupação em conseguir financiar o leitinho das crianças sem precisar depender de vale-refeição, ainda que recebido em espécie.

Resolvi, então, consultar o Afonso. Vinha eu (junto com os meus botões e os, também meus, poucos neurônios sobrantes) trotando pelo Aterro do Flamengo, quando, de repente, tive a nítida sensação de que seria assaltado – do que, afinal, fui indesculpavelmente poupado. Ufa!! Mas, como eu não tinha prática dessa brincadeira, levei-a sério e, por isso, cheguei ao apartamento do meu irmão tremendo que nem vara verde no meio de um bambuzal durante uma tempestade de verão.

Aí, ele tomou duas atitudes que se revelaram decisivas para o meu futuro esplendor. A primeira foi atirar-me ao chão e pôr-se a caminhar sobre as minhas espinhas e vértebras, à guisa de massagem tailandesa, para ver se conseguia reequilibrar os meus chacras. Assim que consegui voltar a respirar ar, dispôs-se ele, então, a tomar conhecimento do dilema em que eu me encontrava.

Finalizada a minha detalhada narrativa, ordenou ele, do alto de sua autoridade de irmão primogênito, que eu recusasse a arriscada proposta que me fora feita, por razões de bioquímica, fluxos de energia alfa e outras ciências afins. E, dito isto, foi-se embora para mais uma sessão de faroeste, deixando-me só com minhas cismas e reflexões.

Obediente como sempre, decidi seguir o seu incontrastável parecer. De volta ao cerrado, aconteceu, também, de cair-me uma gratificação do céu, que logo aparei com o chapéu – antes que a chuva o molhasse! (gostou dessa, Noel, de Isabel?) E com ela consegui, graças à ação “pedestre” do Afonso, equilibrar as minhas combalidas finanças – o que me permitiu continuar vivo até hoje, para ao menos poder contar essa estória de outrora, em cujos carvanais se cantavam marchinhas do gênero:

Se você fosse sincera
Ô-ô-ô-ô, Aurora.
Veja só que bom que era
Ô-ô-ô-ô, Aurora!





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