Caro amigo
Veja só, onde fui amarrar minha mula.
Eu, particularmente, gosto de acordar e olhar o verde que vi crescer com o desenrolar de tantas vidas e apreciar os passarinhos que fazem por ali seus ninhos, principalmente entre os galhos da minha primavera. E se não bastasse, cantam sempre ao amanhecer. Até me esqueço de que estou em São Paulo, cercada de asfalto e multidão de carros .
Carlão, por sua vez, parece não contemplar o jardim na mesma grandeza. Diz com exagero, que construí uma floresta, justamente, o motivo pela qual surgem com muita freqüência, infinitos pernilongos e que permanecem ao seu redor sugando-lhe o sangue.
Retruco, com certa irritação:
"O que posso fazer, se escolhem você? Eu também estou disponível. Com certeza, esses pernilongos são do tipo que gostam mesmo é da cerveja que corre em seu sangue!"
Olho para eles e vejo que voam desordenadamente. Chegam a se trombar no ar, fazem curvas inadvertidamente e não raro, colidem contra as paredes. Na realidade, parecem ficar sem rumo após sugar o sangue de Carlão. Não conseguem acertar um novo alvo. E nesse vôo ao léu, vão e vêm por toda a casa.
“Acredito que eles conheçam todos os segredos rebuçados em cada cantinho dessa casa e que se regalam ou se entristecem conforme os devaneios que amealham!"
A partir daí, zumbir em qualquer ouvido e se divertir faz parte desse jogo.
"Uma conduta desregrada aguça o engenho e falseia o juízo".(De Bonald)
Heleida Nobrega
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