Tico é um palmeirense fanático e convicto que vende galinhas e frangos vivos no mercadão de Taubaté. Faz isso há muitos anos. O Tico fez o supletivo do curso primário com muito esforço, estudou à noite, sacrificou a família e, depois de dois longos anos pegou com notas brilhantes o diploma tão desejado. Tico pretendia continuar os estudos, fazer o supletivo da quinta série no Judite da Vila São Geraldo, mas disseram que ele estava velho e que não havia vaga pra ele. Vaga, disse a inspetora Regina, só para os novos com até vinte e um anos. Mas afinal, o supletivo não é feito exatamente para os mais velhos?
Até hoje o Tico pensa que fizeram sacanagem com ele. Mas isto é outra história. Dia desses, ele que normalmente vende aves na sua loja, comprou uma bela galinha por preço baixíssimo. O homem que lhe vendera a galinha alegou que se desfazia da “moça” porque ela não botava. Isso não importa muito no comércio de galinhas, e do mesmo jeito que comprou, vendeu. E vendeu por muito mais do que o dobro.
No outro dia, porém, o comprador da galinha voltou assustado para devolver a mercadoria. Alegou que a galinha desandara a cantar feito um galo e não ia querer galinha cantadeira no quintal. Os vizinhos também não gostaram da idéia e estavam injuriados. Tudo se dava por causa de uma antiga lenda, uma superstição popular que garante que a galinha cantando no quintal traz mal-agouro e dá um baita azar a quem possui uma. A lenda popular diz que a mulher mais velha da casa pode morrer subitamente e outras coisas mais. Crendospadre!
A notícia da galinha cantadeira correu pelo mercadão e o Tico ficou por vários dias com a mercadoria encalhada. Já contabilizava o prejuízo e dava como certo que teria que ficar com a cantante. De repente, entrou na loja o Bico Farso. O Bico ouvira a história da galinha dos maus presságios e queria comprar exatamente aquela, a cantadeira, aquela que derrubava mesmo... Inteirou-se do preço e não teve dúvidas, puxou a carteira e pagou sem pechinchar.
Quem viu o Bico saindo da loja, garante que no seu rosto havia um sorriso diabólico. A “galinha-assassina” era levada com o máximo cuidado dentro de um saco previamente furado. Os buracos asseguravam a boa entrada de ar, o que garantia a respiração da exterminadora. O bem intencionado genro cruzou as alamedas do mercadão. Mordia os lábios e rangia os dentes murmurando baixinho: “Agora eu quero ver se a minha sogra escapa... Se a galinha ”funcionar”como dizem, acabo com a velha ainda hoje... Mando ela para o inferno!...”
