A letra jota
Por várias vezes o Laboratório Sintofarma abriu e fechou a sua filial de Ribeirão Preto, SP. Numa das vezes em que ela foi reaberta, o novo gerente era o Jorge, um paranaense comedor, simpático e recém promovido. O laboratório, embora nacional, tinha um carinho todo especial com seus homens de campo, acompanhando-os de perto com psicólogas, diagnosticando seus comportamentos para solucionar possíveis problemas individuais. O Jorge, ainda aprendiz de gerente, achou por bem fazer uma reunião na filial e submeter o seu grupo de colaboradores a uma psicóloga, uma vez que queria “mostrar serviço” logo de cara, impressionar o pessoal da matriz. A psicóloga chegou de avião e o Jorge foi ao aeroporto Leite Lopes para busca-la. Chegou e a apresentou a todos nós, cuja turma se achava reunida na pequena filial da rua Florêncio de Abreu. A moça, tão logo foi apresentada aos propagandistas, falou do seu objetivo e solicitou que cada um também se apresentasse, dizendo seu nome, o setor que trabalhava e outras coisas mais que cada um quisesse. O Primeiro a se apresentar foi o Jorge, o segundo fui eu, o Jader, o terceiro foi o Jair, o quarto foi o Joaquim, o quinto foi o Júnior...
Nesse momento a psicóloga sorriu e deu um breque nas aprsentações. A moça ficara intrigada com tantos nomes começando por “J” e interveio para fazer uma brincadeira com a turma, dizendo: “É curioso isso: todos os nomes daqui começam por jota?” O gerente Jorge, para quebrar o gelo, acrescentou em tom de brincadeira: “Comigo é assim mesmo, se o propagandista não tiver um nome iniciado pela letra jota não trabalha comigo, isso é lei nova por aqui...”
O próximo a se apresentar seria o propagandista Domingo (um ex-padre, de origem espanhola, inteligentíssimo). O Padre, até então estivera calado, fumando tranqüilamente o seu cachimbo cheiroso, mas estava ligadíssimo e atento à conversa que rolava. A reunião prosseguiu, atendendo ao pedido da psicóloga: “Bem, então vamos continuar nosso trabalho?...”, disse a representante da matriz, que a esta altura dos acontecimentos já estava curiosa para saber o nome do próximo propagandista. Pela ordem, como já disse, era o Domingo. Mas o Domingo não se apertou e saiu-se bem. Aliás, saiu-se muito bem. Para a risada de todos, retirou o cachimbo da boca solenemente, e disse bem devagar, quase soletrando as palavras: “Meu nome de batismo é Domingo, mas aqui na filial prefiro ser chamado de JOMINGO...”
Todos rimos bastante da saída inteligente do propagandista diferenciado, que muito naturalmente não desejava perder o sagrado emprego.
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