Todos os Leitores estarão de acordo comigo que a maioria lusófona, se eu a interrogasse, me responderia ter já ouvido falar de Camões. Pelo menos 90% é percentagem segura.
Todavia, se tomo um dos poemas do Grande Vate e o apresento sem o seu nome por baixo, oito dos interrogados, em 10, respondem-me que não fazem ideia sobre quem é o autor dos versos.
Mais: sempre que me dá na veneta, logo que me apercebo estar no meio de fingidores de cultura, apresento um soneto de Camões com o meu nome por baixo e um outro, feito por mim, com o nome do insigne poeta.
Sobre o soneto que tem o meu nome, mas é de Camões, os comentários são deliciosos:
- Repara, Torre, esta vírgula aqui está a mais. Esta e esta rimas estão forçadas. Neste verso a métrica não está correcta. Em contrapartida, constata, Torre: o nosso poeta era magnífico. Por exemplo, vê a magnitude deste verso:
"enquanto o mar murmurava em português"
Bem, Leitores, a partir daqui, das duas, uma: armo desde logo um grande banzé e ponho o "ilustre" aos pinotes diante de mim ou opto por silenciar-me indignado com tão "genial conhecimento".
Muito mais e pior: do singelo exposto, relacionando-o com as diversas vertentes culturais da vida, quem se dê à tarefa de testar a sabedoria que o rodeia, só logrará uma resposta concreta e verdadeira.
- Olá amigo, preciso imediatamente de um piloto para conduzir a minha avioneta até Lisboa. Pago seja o que for...
Por muito que argumente e insista, todos se negam a uma tal tarefa. Os verdadeiros pilotos estão todos ocupados a voar...
Num momento destes, enquanto vou bebendo uns wiskys, divirto-me imenso, imenso e quase que choro.