Tadeu - Sabes, Toninho, que já tive um papagaio deveras excepcional?...
Toninho - Ah... Como tu?
Tadeu - Ora, como eu?... Não, era verdinho e tinha umas magníficas penas sobrepostas que me dava a impressão de estar perante um arco-íris. Seu bico era de um amarelo-sol esplêndido e seus olhos pareciam, consoante o volteio e a luz ambiente, todas as pedras preciosas do mundo...
Toninho - Queres dizer: tens saudades do papagaio e agora vens papaguear comigo?
Tadeu - Quando o comprei, só dizia "olá". Mas era muito oportuno nas intervenções. Sempre que alguma das minhas visitas entrava na sala onde ele estava no poleiro, zás: " - Olá!".
Toninho - Não digas que morreu a dizer "olá"?!...
Tadeu - Ah... Além de eu lhe ter ensinado um apreciável vocabulário, ele apreendia e captava com extrema facilidade os pontos mais sonantes das conversações que ouvia...
Toninho - Bem, Tadeu, não divagues. Vais decerto dizer-me a seguir que até o mandaste para a escola doutorar-se...
Tadeu - Atenta nesta faceta, Toninho, um dos mais impressionantes momentos que passei com o meu querido papagaio...
Toninho - Ó Tadeu-Tadeu, estou farto de ouvir histórias sobre papagaios...
Tadeu - Escuta, amigo, esta, palavra, merecia ir ao parlamento...
Toninho - Pronto, tá bem: conta lá.
Tadeu - O gajo, com o tempo, ficou muito malcriado e impossível de aturar. Era um refinado patife na palavrosidade ofensiva. De certa feita, irritou-me tanto-tanto que perdi a cabeça e meti-o de castigo no galinheiro...
Toninho -Ena, Tadeu, só de ti. Então, és exactamente como os líderes americanos: ensinas o papagaio e depois castigas o bicho por causa de ele exercer o que aprendeu?
Tadeu - Nessa ocasião, durante a noite, sobreveio um forte temporal, cuja ventania arrancou a cobertura ao galinheiro e partiu aquela girigonça toda. Fiquei sem um belo galo e algumas galinhas, que morreram sobre o escombros...
Toninho - E... Então e o papagaio?...
Tadeu - Em princípio, perante o estrago todo, tive a sensação que também teria morrido. Todavia, consoante fui libertando o local dos pedaços de madeira e de chapa, lá muito enfiado num recanto, estava o gajo todo encolhido, depenado, enlameado e algo ferido...
Toninho - Pobre papagaio... Perdeu a fala?!...
Tadeu - Estás enganado. Mal me viu, soergueu-se de imediato, deu três ou quatro saltitos muito bruscos em redor e colocou-se ao sol...
Toninho - Mas não disse nada?...
Tadeu - Eu indaguei: então, pá, o que é que te aconteceu?...
Toninho - Respondeu?...
Tadeu - Logo. Abriu as depenadas asas, a modos de quem faz peito a confronto, e disse: " - Ó patrãozinho, eu quando me zango a sério, tiro o casaco e arraso tudo...".
Toninho - Ah... Ah... Ah-ah-ah... Mas, Tadeu, ele disse mesmo "arraso tudo"?...
Tadeu - Bem, Toninho, a verdade nem sempre deve dizer-se, mas, em lugar de "arraso tudo", disse... Disse... Pronto, disse: "... fodo tudo".