Sapato na janela e já pra cama, se não ele não vem.
Então, chegava à meia-noite; olhos abertos debaixo das cobertas, barulho nos armários e sussurros na sala. Uma fumacinha entrava pelo buraco da fechadura e, lá estava ele arrumando os presentes.
Depois a fumacinha ia embora e alguém gritava – podem vir – ele já veio e já foi embora.
Sorrisos estampados, decepções e alegrias.
Porra! Ele me sacaniava, toda vez era a mesma coisa, eu pedia; um tênis Rainha ou Bamba (os tênis mais famosos para mim na época) e, o que ele me dava, simplesmente um “conga”, sola finininha, que só de andar machucava.
Uma vez pedi para ele uma bicicleta, sabem o que ele me deu? Uma bicicleta, velha; pneu duro, sem câmara e o freio era no pedal, conclusão, tinha que frear com o pé descalço ou de chinelo, haja pé e chinelo.
Me dava, lápis, caderno (com bandeira do Brasil e Hino nacional), estojo e umas borrachas vagabundas (aquelas branquinhas), eu ficava puto. Porra! Eu nunca gostei de estudar e o danado insistia em me dar essas coisas.
E, quando ele achava que eu não gostava de tomar banho, me enchia de sabonetes baratos.
Uma vez pedi para ele um meião de futebol, sabem o que ele me deu? Uma meia três quartos.
Mas depois de muitos anos ele me acertou, me deu uma chuteira e uma bola de futebol oficial, passei a noite toda calçado com a chuteira, e louco para o dia clarear.
Papai Noel nos ensinou, como; trabalhar, estudar, esperar e lutar.
Eu acredito em Papai Noel.
Autor: Marco Túlio de Souza
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