Sinceramente, eu penso que o Chico não merecia este livro. Por tudo o que ele fez, principalmente por sua co-autoria em “Beatriz” (a música mais bonita da MPB que o Ed Motta tentou estragar mas não conseguiu) e dos seus belos olhos azuis-turqueza, ele não merecia e não precisava ser comparado a nenhum autor maior do que ele. Por sua integridade intectual e política e por sua discrição que tem tudo a ver com o príncipe que ele sempre foi, ele não merecia – além de ter o Carlinhos Brow como genro, também, ser incensado como grande escritor que ele não é. Se o Chico for mesmo um grande homem vai recusar tudo isso (que é a vaidade alheia) e fazer outro sambinha em homenagem à verdadeira nata da malandragem que ele - tenho certeza - conhece de outros carnavais. Chico não precisa de duplos e joguinhos de espelhos e não precisa dos labirintos de Borges, nem das cidades invisíveis de Calvino, nem da metalinguagem de Cortázar, não precisa de nada disso para ser o Chico Buarque de Hollanda que ele é. Nem das cambalhotas de Joyce ele precisa.
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[Marcelo Mirisola, no AOL Notícias, comentando o novo livro de Chico Buarque – “Budapeste”.]