Certa noite, o Zé voltava da taberna, onde tinha ido beber uns copos para afogar o cansaço da jornada na courela e, à beira da vereda, vislumbrou um cabrito.
- Estará perdido, pensou – vou levá-lo para casa e no próximo domingo teremos uma jantarada digna de uma boda!
Bem dito, bem feito: pegou na rês e colocou-a aos ombros, sobre a gola da samarra.
Continuou o seu caminho, assobiando de contente, mas quanto mais avançava mais o cabrito lhe pesava, a ponto de ele mal poder dar mais passo.
Parou, retirou do bolso o lenço para enxugar o suor que lhe escorria da fronte e nisto uma voz maviosa sussurra aos seus ouvidos
– Olha lá, ó Zé: o teu pai também tem dentes?
O homem arrepiou-se todo, sacudiu os ombros, atirou com o cabrito, que se afastou em risadinhas casquinadas e pernas para que te quero!
O Zé continua sendo lavrador, mas diz-se que desde então nunca mais ninguém o viu tocar noutro conduto que não fosse produto da sua colheita: tornou-se vegetariano!