Encontrei um esqueleto
De um negro feiticeiro,
Nas mãos tinha um pandeiro,
No pescoço um amuleto;
Passei a mão num graveto
E bati no seu traseiro,
Gritei alto e zombeteiro:
- Acorda, fantasma preto!
A caveira levantou
De repente, num revés,
Foi contanto até dez
E em seguida me encarou;
Gargalhando assim falou,
Agarrando-me nos pés:
- Eu já fui o que tu és,
Tu serás o que eu sou.
Pedi aos restos mortais
Da medonha Entidade
Que tivesse piedade
E compaixão dos meus ais:
- Vai pra junto de teus pais,
Nos confins da eternidade,
Dá-me agora a liberdade,
Que não te verei jamais.
Ele ficou pensativo
E, após um tempo absorto,
Apontou-me o dedo torto
E falou muito incisivo:
- Passei a vida cativo,
Na morte achei meu conforto,
Não sou mais um vivo-morto,
Sou agora um morto-vivo.
Depois me fez um apelo,
Dizendo-se apaixonado,
Se eu lhe fizesse agrado,
Jamais tornaria a vê-lo;
Para não aborrecê-lo,
Dei-lhe um beijo prolongado
E acordei muito assustado;
Que horrível pesadelo!