Basta um simples e objectivo olhar racional sobre a voraz partidocracia que se instalou na política portuguesa, cujo efeito visual apresento sob entendível fábula rápida, para logo constatar-se o que os portugueses têm de aceitar, acatar e suportar sem mais democrática opção: dois cães grandes, rosnando avarentos e invejosos, batem-se pela fruíção de um único ôsso. Ao redor, lestos em cima dos bocaditos que se esboroam na liça, três-e-meio pequenos cães, daqueles que fingem atacar e só ladram muito, enquanto tenazes aproveitam as migalhas ósseas, incitam e promovem o cego degladio. Na imediação circundante, pela noite onde não há uma só nesga de luar, a cãozoada presa ao cadeado ladra e uiva aflitivamente incessante. Na actual decorrência, quem eventualmente se meter ao meio ou mostrar indícios de pôr cobro ao estúpido festim, é imediatamente ferrado e afastado. Entretanto, milhares de cães vádios, sarnentos e famintos, infestam praças, avenidas e ruas voltando os contentores e revolvendo o lixo em permanente função de dia sem dia.