"Anteontem, no senado, trocaram-se algumas palavras, incidentemente, sobre qual das formas de governo é mais barata ou cara, se a monarquia, se a república.
Um assunto desses exige o voto de todos os cidadãos. Considero-me obrigado a vir dizer perante o meu país e o meu século que a mais barata de todas as formas de governo seria a que Proudhon preconizava, qual seja, a anarquia. Pode-se gastar mais ou menos com o galo ou o peru que está no quintal, não se gasta nada com o cisne, que se não possui. A anarquia não custa dinheiro, não teria ministros, nem câmaras, nem funcionários públicos, nem soldados; não teria mesmo tabeliães; exatamente como no Paraíso, antes e logo depois do pecado."
[Machado de Assis, Seleta de Crônicas, direção: Edla van Steen, Global Editora, São Paulo/SP, p. 104]