“Em um dia como hoje, meu mestre William Faulkner disse: “eu me recuso a aceitar o fim do homem". Eu seria desmerecedor de me levantar neste lugar que foi dele, se eu não estivesse completamente certo de que a tragédia colossal que ele recusou reconhecer trinta e dois anos atrás é agora, pela primeira vez desde o começo da humanidade, nada além de uma simples possibilidade científica. Enfrentado esta realidade temerosa, que deve ter parecido, por tanto tempo, uma mera utopia humana, nós, os criadores de contos que acreditamos em algo, nos sentimos autorizados a acreditar que não é muito tarde para se ocupar da criação da utopia oposta. Uma nova e longa utopia de vida, em que ninguém poderá decidir pelos outros como eles morrerão, em que o amor se provará verdadeiro e a felicidade possível, e em que as raças condenadas a cem anos de solidão terão, afinal e sempre, uma segunda oportunidade sobre a terra”.
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[Trecho final do discurso de Gabriel García Márquez, autor de romances como “Cem Anos de Solidão” e “Ninguém Escreve ao Coronel”, ao receber o Prêmio Nobel de Literatura. O discurso, na íntegra, pode ser lido no site http://www.themodernword.com/gabo/. O texto está em inglês. A tradução é minha. Espero não ter cometido um duplo atentado: contra o idioma de Shakespeare e contra o primoroso discurso de Márquez.]
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