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Erotico-->AS AVENTURAS DO PADRE DEODORO EM CAMPOS ETÉREOS — V -- 21/07/2003 - 12:54 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Calou-se, mas Eufrásio não lhe respondeu de pronto. Mantinha-se distante, como se a sua vista esgazeada estivesse prestando atenção em alguma realidade que lhe era interdita. Deodoro começou a desconfiar de que havia ido muito longe:

Vou pedir-lhe desculpas porque, de qualquer modo, ele está sendo por demais atencioso. Se me dissesse tudo de viva voz, iria confirmar as minhas desconfianças. Então, devo abster-me de provocá-lo. Quem sabe ele esteja tentando, num contato telepático, provar-me que não nos utilizamos dos mesmos recursos dos (como é mesmo que ele chama os mortais?) encarnados. É isso. Se eu conseguisse saber por mim mesmo que as ondas existem atravessando o espaço etéreo que é preenchido por fluidos especiais, cósmicos ou universais, aí saberia que o princípio físico é o mesmo, ou seja, a partir de uma vibração, imprime-se uma ondulação específica que é captada pelo recebedor da mensagem por meio de algum dispositivo perispirítico, já que o organismo espiritual deve ter sua condição estruturada segundo leis próprias. Resta que Eufrásio me confirme este roteiro e acreditarei piamente que a comunicação está obtendo conveniente resposta de meu intelecto.

Eufrásio, como que despertando de um estado de reflexão, disse:

— Não é interessante que você tenha tido oportunidade de receber o influxo de minhas vibrações dentro de freqüência compatível dentro da mente, diversa desta que estou aplicando neste instante, muito mais grosseira e tendente à estruturação lingüística?! A minha transmissão não foi traduzida cem por cento, porque você não possui os parâmetros do etéreo, para justificar, lingüística ou idiomaticamente, os impulsos que se formularam em seu consciente. De todo modo, o essencial você foi capaz de entender, conforme pude observar pelas notícias que exteriorizou, apesar de fazê-lo sem nenhum domínio pessoal.

— Querido Eufrásio, confirme para mim, por favor, se estive certo em imaginar que você está empenhado em me tornar mais fácil a caminhada nesta fase da minha existência.

— Pois não lhe disse que exerci o papel de seu protetor?

— Quer dizer que você se tornou um anjo da guarda?

— Não é bem assim que você deve chamar-me, posto que, pela sua conceituação de sacerdote, não tenha muitos nomes para atribuir-me. Na verdade, como já dissemos, anjos são mensageiros e eu apenas me capacitei a ajudá-lo a tomar as melhores decisões, tarefa muitas vezes penosa quando se trata de pessoas rebeldes, mas assaz facilitada quando se trata de gente habituada às reflexões morais, canônicas e até filosóficas. Melhor que você, só se me dedicasse a alguém que estudasse e praticasse a doutrina dos espíritos, o chamado Espiritismo Kardecista. Devo resguardá-lo da dúvida de que todos os bons e os justos estejam filiados a esse movimento. Não é bem assim. Faço especial referência ao fato de que os princípios ali estão fixados através de rigorosa apreciação de caráter científico, embora se necessite de dar curso à fé ou a pessoa vai pensar que seus conhecimentos sejam tão-somente intelectualizados, sem qualquer participação dos influxos dos sentimentos e das emoções. Não é bem assim...

— Calma, bom amigo! Não se esqueça de que estou mal e mal saindo de um estágio de torpor, alienado por muitos anos de concentração carnal. Apesar de estar favorecido pelo discernimento lógico, num crescendo de reações favoráveis à percepção dos seus dizeres, conforme você pode notar pela facilidade com que exponho os meus pensamentos, também não consigo integrar-me inteiramente nessa realidade a que você dá total crédito. Para mim, só o fato de você me transmitir mentalmente um discurso e realizar o prodígio de construir um espelho em que me vi refletido não haverá de ser suficiente para me convencer de que tudo que você me explica está de acordo com os roteiros estabelecidos pelo Pai para esta esfera. Veja que estou assimilando o vocabulário.

Eufrásio pediu desculpas sem usar de palavras, juntando as mãos e abaixando a cabeça.

Deodoro estendeu as suas mãos e cobriu com elas as de seu amigo, intentando notificá-lo que aceitava a manifestação.

Ambos se entendiam. Mas uma nova surpresa e uma nova observação deram a Deodoro motivo de interrogar o benfeitor:

— Como é que tenho a exata sensação de que suas mãos estejam tépidas, como se a sua temperatura estivesse pelos trinta e cinco ou trinta e seis graus, isto é, absolutamente normal e coerente com o mais comum do corpo humano?

— Esse ponto que você levanta está contido em muitas de suas questões anteriores. Vou dar-lhe uma explicação plausível para o seu descortino atual. Como Jesus não disse tudo, eu também vou dar-me o direito de não adentrar os aspectos técnicos do assunto. Em todo caso, você não acha verossímil que impregnemos o corpo fluídico ou perispírito de modo a torná-lo compatível com tantos anos de convivência terrena? Especialmente no seu caso, o hábito se estabeleceu rigorosamente e você, por enquanto, só é capaz de entender-se como se estivesse vestido de carne, ossos e sangue. É a impressão mais segura de que está existindo segundo a sua individualidade. Mais cedo ou mais tarde, ao dominar o material etéreo, irá plasmar outro envoltório para o seu espírito, com sensações pertinentes ao mundo em que estamos. Não é lógica a minha exposição?

— Acredito que seja, segundo a minha possibilidade de responder ou de argüir neste instante, uma vez que você adiou as reais explicações. Mas devo confessar que me tranqüiliza saber que estou amparado. Mais ainda: que estou assistido. Quem lhe pede perdão, agora, sou eu, porque fui turrão a ponto de desafiá-lo de início. Reconheço que os preconceitos de que desejei valer-me não se coadunam com a formulação de um ideário próprio desta morada. Veja que, para bem da verdade, não estou dizendo-lhe que aceito as suas informações pacificamente. Mas que pretendo comprovar tudo o que você vem asseverando, assim que me for possível.

— Diga tudo o que está pensando.

— Preciso? Você não está lendo em minha mente?

— Desejaria que as suas assertivas íntimas fossem corroboradas por manifestação da vontade, do contrário irei supor que, mais tarde, você poderá...

— De que você está desconfiado? Por que não me transmite as suas impressões do meu eu mais profundo diretamente ao meu intelecto ou ao meu cérebro, conforme a sua compreensão de como se realiza esta organização espiritual?

— Não suspeito de nada. Leio com clareza qual é a sua intenção. Mas você deve transmiti-la para que se registre nas...

— Não me diga que existem aparelhos de captação e gravação dos pensamentos?!

— Existem apenas para configurar o histórico dos acontecimentos, pois pode ocorrer de precisarmos das atas, vamos assim dizer, para as discussões que se seguirão no decorrer...

— Pois diga você mesmo, que eu confirmarei, se você estiver correto.

— Deodoro, vou aceitar a condição, mas afirmo-lhe que não estou exercendo, de modo algum, nenhum tipo de censura ou de crítica. Estou anotando um fato, simplesmente, sem envolvimento emocional de qualquer espécie. Estamos entendidos?

— Em nome de nossa amizade, peço-lhe que seja assim mesmo, porque, se você é capaz de interpretar os meus sentimentos mais escondidos, aqueles que ocorrem no recôndito de minha inconsciência...

— Não sou capaz de tanto. Acontece que você é uma pessoa muito boa, o que faz que imprima na aura os intentos, acostumado que sempre esteve a ser o mais próximo do honesto e do moral. E aí eu leio que você, meu generoso amigo, está cansado desta longa conversação, desejando ver-se livre de meus argumentos e da minha insistência, para vasculhar o plano espiritual por si mesmo, aspirando por achar recursos que confirmem o antigo ideal, caracterizando esta região como purgatória, ainda insatisfeito e...

— Na verdade, Eufrásio, eu gostaria muito de sair para passear naquela alameda em que me vi retratado. Quem sabe ali eu restaure as forças e consiga encontrar uma porta para o mundo exterior, onde poderei vagar segundo o meu próprio discernimento.

— E se a sua decisão estiver sendo precipitada? Não se esqueça de que lhe informei de que aqui os pensamentos se plasmam e as vontades se realizam. Mesmo que opte por ter-me ao alcance de suas vibrações, talvez a sua peregrinação por regiões desconhecidas não lhe favoreça a assimilação mais rápida das noções que nesta instituição iria receber de forma organizada, em disciplina curricular.

— Pois eu lhe agradeço muitíssimo a intenção e, como você disse, para registro, faço minhas as suas palavras e o isento de qualquer culpa, caso venha a me ver em maus lençóis. Em todo caso, peço-lhe que não tome a minha decisão como definitiva, pois pode ocorrer que outras idéias se formem em meu cérebro, segundo intuições que me possam chegar do fundo de minha organização psíquica, para não ofendê-lo falando em alma.

Eufrásio talvez prosseguisse discutindo os diferentes tópicos levantados pelo amigo, mas recolheu-se em prece, para receber a comunicação de seu benfeitor, que o orientava para facultar ao recém-admitido na casa de atendimento espiritual a liberdade de esconjurar os próprios fantasmas.

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