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Erotico-->7. O ESPIRITISMO LEVADO A SÉRIO -- 29/06/2003 - 10:50 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

O entrevistador era o Raspace, o senhor de cabelos brancos, muitíssimo mais simpático quando em contato direto com as pessoas. No palco, havia tremido um pouco. Agora estava desenvolto e palrador:

— Quer dizer que temos duas novas adesões? Raul me afirmou que seriam dois casais...

O próprio Raul esclareceu:

— Estamos esperando a chegada de meu outro irmão com a esposa.

Eu acrescentei:

— O Luís me afirmou que viria. Algo deve ter acontecido.

Raspace, estendendo a mão, apresentou-se como presidente da casa e trabalhador em todas as áreas, porque não encontrava quem viesse com a freqüência ideal. Chamou-nos para a saleta das inscrições, enquanto Raul e Odete se dirigiam para a sala de estudo.

Entramos, Ana e eu, e nos sentamos, à espera de que o entrevistador se manifestasse.

Depois de vasculhar uns impressos na gaveta da mesa, encontrou dois que nos apresentou, ao mesmo tempo que explicava:

— Nós temos quatro tipos diferentes de fichas. A primeira e mais comum é a dedicada aos assistidos, que é como chamamos as pessoas que necessitam de auxílio material, além, é claro, do espiritual. A segunda é pra quem chega com problemas específicos de caráter emocional, como gente que perdeu familiares recentemente.; gente que diz que está tendo alucinações.; gente que permite incorporações sem conhecimento da ciência mediúnica etc. A terceira é essa que está com vocês, ou seja, pra pessoas alfabetizadas, que se apresentam ao centro trazidas por alguém já entrosado e que vêm com o intuito de freqüentar os cursos, pra conhecer. A quarta se refere aos confrades e confreiras que chegam de mudança e que já pertenceram a outras instituições kardecistas, pretendendo, portanto, continuar trabalhando pelo movimento espírita. Se vocês tiverem alguma dificuldade no preenchimento, podem perguntar o que quiserem.

Disse e retirou-se, dando-nos tempo para o formulário. As perguntas eram comuns: nome, idade, naturalidade, profissão, residência, disponibilidade de horários, antiga religião e quais as obras espíritas que conhecíamos. Quando terminei de escrever o último dado, ou seja, que nunca havia lido nada, percebi que Ana relacionava quatro ou cinco obras, o que era para mim completa novidade.

Perguntei, baixinho:

— Quando foi que você leu esses livros?

— Os três primeiros eu li tinha uns quinze ou dezesseis anos. Os dois últimos, terminei ainda hoje. Foi a Odete quem emprestou há bastante tempo, mas eu não dei atenção até a semana passada.

— Por que você não me mostrou?

— Quando chegarmos em casa, você vai ver que estão sobre a sua escrivaninha. Eu não quero falar sobre eles, sem que você leia primeiro.

Engoli todas as observações que teria, analisando-as como um pouco agressivas. Não sabia a razão mas o ambiente me refreava os impulsos nervosos e me tornava bem mais calmo do que o normal. Guardei as palavras para dizer assim que tivesse oportunidade. Mas não tive muito tempo para ruminar os pensamentos, porque Raspace voltou e leu com atenção todas as respostas. Aí, deu as primeiras diretrizes relativas ao procedimento dos novatos:

— Vocês estão chegando e são bem-vindos. Tomara que vençam a tentação de ficar em casa, fazendo o que estavam acostumados, provavelmente vendo televisão. Nós, no Espiritismo, fazemos restrições a certos programas, mas incentivamos que todos os companheiros vejam de tudo, porque sempre temos meios de analisar e de criticar, pra pôr os pingos nos is, conforme os ensinamentos de Jesus e os esclarecimentos de Kardec. Quando as pessoas chegam, a primeira idéia que fazem é de que irão ter de estudar, como faziam na escola, agora sem a pressão da retenção na série e com a responsabilidade de quem sabe o que quer da vida. Quando os estudos vão ficando cada vez mais sérios e os debates exigem a preparação dos temas em casa, cresce o desejo de desistir. Com a minha experiência, sei que muitos ficaram nas hostes dos seareiros espíritas apenas porque conseguiram fazer amizades com os demais participantes do centro. Por isso, aconselho que se enturmem, o que não vai ser difícil, porque a confreira Odete e o marido já estão entrosados. Se quiserem participar da diretoria, deverão aguardar, pelos estatutos, por dois anos, pelo menos, na qualidade de associados. Agora, devo falar a respeito da mensalidade, porque existe uma taxa facultativa a ser estipulada pelos próprios interessados. Entretanto, os primeiros seis meses são de estágio probatório, vamos dizer assim, de sorte que vocês vão ser observados em seus desempenhos, como também irão avaliar se é de seu pendor manterem-se na casa. Muitas vezes, as pessoas têm decepções, porque não conseguem justamente o que mais queriam, como aqueles que desejam conversar com os espíritos e ficam marcando passo nas sessões experimentais. Isso é mais freqüente do que gostaríamos. Então, aquele que está mais bem relacionado com essas pessoas aconselha que se ajeitem em outro setor, como o de ajudar nas feiras de livros e nos bazares da pechincha.; como organizar os lanches beneficentes, chás, sorvetes, “pizzas”, almoços e jantares.; como participar das campanhas filantrópicas, em favor das famílias carentes ou dos que precisam ser internados ou medicados com remédios especiais.; como o de ajudar na secretaria, organizando as fichas e elaborando o relatório mensal e os balancetes semestrais e anuais.; como realizar palestras ou cooperar nos cursos de interesse da instituição.; como representar a casa nos eventos patrocinados pelos outros centros. Em suma, trabalho não falta.; o que precisa é de boa vontade e disposição — e de muita fé em que fora da caridade não existe salvação, que é o lema maior do Espiritismo. Vocês vão começar o curso de mediunidade e eu lhes desejo boa sorte, rogando a Jesus que lhes envie mensageiros de luz, pra lhes darem bastante ânimo pra enfrentarem o duro batente. Felicidades!

As últimas palavras Raspace disse enquanto íamos na direção da sala de estudos, de modo que, em lá chegando, despachou-se, sem dar sequer oportunidade de agradecermos.

Eu olhei para Ana, ela olhou para mim e ambos compreendemos que regras não faltavam para o bom andamento dos serviços que o centro propiciava à comunidade.

Estava de pé junto à lousa o “confrade” Rodolfo, acompanhado da “confreira” Rosa Maria, aquela mesma do vestido das ramagens. (Juro que ainda hoje não me dou bem com esses vocábulos, especialmente o de “confreira”, que me parece ter saído diretamente do baú de algum convento católico.) Em torno da mesa, exatamente, dez pessoas.

Foi Rodolfo quem nos recebeu e apresentou ao grupo:

— Estes são Ana e Cláudio. Cláudio é irmão de Raul e foi convencido por ele a vir espiar o que acontece aqui. Ontem estiveram na palestra e já se propuseram a vir hoje. Quero que cada pessoa, como de hábito, diga o seu nome e, novidade, há quanto tempo se encontram estudando a doutrina. Vamos começar pelo Jurandir.

Jurandir era um crioulo bem apessoado, vestido à esportiva, bem falante, que logo foi dizendo, em voz clara e pausada:

— Jurandir dos Santos, ao seu dispor. Estou vendo se me torno médium há justos três meses. Devo dizer, para não assustar os recém-chegados, que já consigo escrever umas linhas, mercê da assistência dos bons protetores que trouxe da Umbanda.

Não notei, mas Ana me garantiu depois que Rodolfo e Rosa Maria confabularam, assim que a outra seita foi mencionada.

— Meu nome é Joana. Estou aqui faz um mês e meio, mais ou menos.

A mocinha não me pareceu ter mais do que quinze ou dezesseis anos. Era franzina, cheia de sardas e falava bastante cantado, com sotaque nordestino.

As outras pessoas também declinaram os seus nomes e aparecerão no decorrer da narrativa. Posso dizer que o mais antigo no grupo era o Jurandir e que havia dois casais cuja presença se dava pela segunda vez.

Terminada essa fase inicial, Rodolfo saiu, dizendo que ia prosseguir o curso da turma mais antiga, na outra sala, deixando Rosa Maria com o encargo de levar adiante os estudos.

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