Não devemos acrescentar muitas informações, já que os procedimentos regenerativos de Lourival estão em andamento.
Podemos afirmar que não foi difícil o restabelecimento da saúde, desfazendo-se a infecção, tantas foram as receitas de antibióticos. Em havendo vontade de volver à matéria, não tendo sido atingidos essencialmente os órgãos de locomoção, bem ainda agravados os distúrbios neurológicos, coube ao perispírito comandar a refacção do domínio bioquímico, através dos impulsos elétricos que se restabeleceram.
O milagre do ressurgimento da consciência para a realidade densa foi festejado por todos, em congraçamento de profunda fé religiosa, onde as orações se mesclaram de muitas emoções. Se houve quem ficasse pateticamente admirado, sem saber a que atribuir o retorno do amigo, também houve quem entendesse que as forças espirituais tivessem assegurado a plena reintegração do corpo físico, para os eventos que se seguiriam e que estariam perfeitamente entrosados com o carma de toda a equipe. Mas tais foram as atitudes extremas. A maior parte das pessoas agradeceu ao Senhor e passou adiante, que a vida é o revolutear das ações na busca da perfeição evangélica, no final das contas.
Presentemente, Lourival faz inúmeros exercícios de restauração muscular, acompanhado por médicos fisiologistas bem categorizados. Não haverá seqüelas a lamentar.
Durante o sono, preocupa-se com os temas relativos à parte teórica da doutrina espírita, buscando resolver todas as questões com a ajuda do pessoal da regressão. Vai entendendo bem rapidamente as causas dos problemas, eximindo a culpa de todos os outros seres, atribuindo-se a responsabilidade de tudo. Não queremos levá-lo por trilha muito perigosa, mas a verdade é que definiu com precisão que as conseqüências são sempre justas, já que “a cada um segundo as obras”.
Deseja, durante os estudos, anular as vibrações emocionais, sabendo, porém, que as reações desse tipo irão propiciar-lhe meios de conhecimento pessoal de primeira grandeza.
Desperto, fica longo tempo acarinhando as mãos a Ernestina, não compreendendo exatamente a razão do gesto, mas crente de que sua vida a ela deve. Dois pombinhos, fazem promessas de eterno amor, como se estivessem em pleno namoro.
Quanto aos amigos mais chegados, Isabel e Zezinho, desistiu de convencê-los à adoção do espiritismo. Se deliberassem ter algum filho, até consentiria em levá-lo à pia batismal, desde que não fosse obrigado a nenhum curso...
Quando interrogado onde estivera espiritualmente durante o coma, Lourival não soube responder. Sabia que fora visitar os parentes, gente vestida de branco como os médicos, que lhe deram muitos conselhos, principalmente para que retornasse ao plano material e que reformulasse os conceitos de vida. Queriam também que investigasse o passado, pois parecia-lhes que algo ficara devendo e, por isso, não estava sendo recebido em festa.
Em suma, adquiriu a noção de que estivera do outro lado do mistério, mas ficou muito longe de suspeitar por que caminhos fora conduzido. Mas valorizava a vida como nunca, dizendo-se mau a ponto de ter sofrido grave acidente automobilístico, sem que tivesse sido capaz de frear o veículo. Achava que não fora inteiramente acidental a batida, mas não tinha noção das causas que o levaram a acidentar-se. Lembrava-se do excesso de bebida, mas dava ao fato o aspecto de agravamento da irresponsabilidade.
Quando quis debater o assunto com a esposa, percebeu que não iria obter sucesso no levantamento da hipótese do desejo de morrer. Seria o mesmo que dizer a ela que não lhe desejava mais a companhia. Por isso, calou-se.
Aguarda, agora, oportunidade para voltar à repartição, dando seqüência natural aos compromissos profissionais. Soube estar de licença médica, renovada periodicamente, sem prejuízo dos vencimentos. O hospital nada lhe cobraria, visto ser destinado ao atendimento dos servidores públicos, o que lhe proporcionava economia extraordinária que poderia destinar a algo mais grandioso. Não sabia ao certo em que sentido, mas a vida iria sofrer profundas alterações.
Quanto aos companheiros ligados ao centro espírita, solicitou que orassem por ele e que fizessem que sua presença ficasse demarcada nas reuniões através da leitura de mensagens que escreveria, no oportuno comentário a respeito das virtudes evangélicas. Não queria dar lições, mas iria conduzir os pensamentos para áreas muito distintas das para onde o levavam as preocupações de antes do acidente.
Estamos sendo informados que já escreveu sobre a bondade, a comiseração e o perdão, enfatizando a necessidade do domínio integral da personalidade para se adquirirem méritos para o progresso rumo ao Senhor. São entrechos mesclados de muita poesia, como quem retorna do paraíso para contar aos demais o que viu e o que sentiu. Não nos disse, mas sabemos que pretende desenvolver a inspiração para a descoberta dos padrões pessoais de procedimento. Quem sabe, incidentalmente, possa descrever os acontecimentos que geraram a estadia no hospital... No mínimo, se treinar com afinco, encaminhar-se-á para a psicografia.
São sintomas de que a memória não se perdeu completamente, mas que se revela por sugestões de trabalho que poderão conduzi-lo às soluções dos problemas.
Neste momento, membros do grupo de protetores estão ao seu lado para imantá-lo.
Deus nos proteja a todos e nos inspire para o conhecimento da verdade!