Macedo, na tarde do dia em que conversou com José, foi até o centro espírita para ouvir Ricardo e Elvira. Haviam combinado o encontro, de sorte que constituiu surpresa não ter sido recebido por nenhum dos dois. No entanto, pôde palestrar com as pessoas presentes, instrutora e alunas do curso de mediunidade.
A informação mais importante que recebeu foi quanto ao fato já de seu conhecimento de que não haviam jamais visto a mocinha em apreço. Eram moças e senhoras donas de casa, inclusive a instrutora, médium que trabalhava ali há vários anos.
Inquiriu sobre os ausentes e só ouviu elogios relativos à dedicação de ambos ao atendimento das pessoas pobres a que o centro assistia.
Não tendo nada mais marcado para aquele período, deixou-se Macedo ficar, curioso de saber como é que os espíritas se instruíam relativamente à incorporação dos espíritos.
Recebeu um exemplar da obra que portava Lutécia e foi convidado a participar da aula, efetuando a leitura dos textos que eram explicados pela professora.
Falava-se sobre a confiabilidade das informações obtidas por via mediúnica, concluindo-se, provisoriamente, que deveria ser a mesma que cada pessoa deve atribuir às suas intuições, as quais, disse a instrutora, poderiam ou não ser fruto da contribuição dos protetores ou guias.
Foi assim que Macedo teve a idéia de que a morte de Lutécia poderia ter sido uma contingência de estar no carro, quando os assassinos estariam visando ao motorista ou à esposa deste. Pareceu-lhe uma hipótese viável, ainda mais porque imaginou que o casalzinho poderia ter frustrado alguma paixão doentia.
Sabia o detetive que Francisca se fazia acompanhar dos sobrinhos para ir ao terreiro, conhecendo um pouco da história dos amores de Tiago e Natália.
“Quem sabe”, pensou lá consigo, “algum mequetrefe não se sentiu traído?”
No finzinho da aula, quando se preparavam para a oração de despedida, chegou Ricardo, trazendo um constrangido pedido de desculpa pelo atraso, explicando a razão deste. É que havia ido à delegacia acompanhar uma mãe aflita, cujo filho havia sido preso em flagrante assaltando uma residência, detendo a família, com um comparsa, por mais de quatro horas, enquanto negociavam com os policiais as condições da rendição. Elvira havia ficado lá, providenciando para que a infeliz visse os acontecimentos com a mente aberta pela doutrina espírita.
Macedo logo se inteirou de que os bandidos eram muito jovens, tendo sido surpreendidos pelos reféns, que conseguiram avisar os vizinhos e estes a polícia. Insistiu, contudo, junto a Ricardo, se era do seu conhecimento se possuíam ou se tinham sido vistos com uma motocicleta. Diante da negativa peremptória do responsável pela instituição de assistência espiritual, concentrou-se na possibilidade de haver alguma desavença no terreiro.
Ricardo não tinha conhecimento de nada que envolvesse Tiago, menos ainda do que se passava na casa umbandista. Contudo, forneceu o endereço dela e o nome de alguns pais e mães-de-santo responsáveis pelas atividades ali.
Naquela noite, Macedo ouviria muitas lamúrias pela perda da jovem médium, pessoa queridíssima de todos, mas não levantou uma denúncia sequer contra ela ou o marido. Ao contrário, o povo insistiu junto ao investigador para que prendesse os criminosos, porque gente assim não servia para viver em sociedade.
Durante os trabalhos, foi-lhe permitido perguntar à entidade espiritual incorporada se poderia informar algo que favorecesse a captura dos assassinos.
Pela voz da médium, Pai Benedito disse-lhe:
— A limpeza do coração das pessoas, “zim fio”, é obra do tempo.
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