Estando o Inspetor Macedo a avaliar o resultado da batida policial à “boca-de-fumo” da gente de Juvenal, recebeu outra denúncia, segundo a qual, no mesmo endereço, ainda havia estranha movimentação de pessoas.
Ele mesmo havia constatado que para lá afluía uma quantidade bem grande de pessoas, ao contrário do que comprovara o forte esquema policial no dia em que se invadiu a casa, quando foram detidos dois menores suspeitos de pertencerem à quadrilha e mais três usuários, todos encaminhados à delegacia, onde não puderam ser autuados por não portarem um grama sequer de qualquer tipo de droga.
“Quem terá avisado os marginais?” — era a pergunta obrigatória a que não conseguia responder, especialmente porque não fora identificado nenhum responsável, dentre os membros das corporações civil e militar, que daria cobertura à operação ilegal.
Para não correr o risco de perder o trabalho da investigação, porque sua figura ficou marcada na ocorrência por causa da cobertura que a imprensa e a televisão deram ao fiasco do aparato beligerante, solicitou Macedo ao chefe que designasse outro para efetuar nova averiguação, ainda mais porque estava empenhado em investigar o assassinato das três pessoas, cujo “modus operandi” se identificava com o que ocorrera dois anos antes no âmbito da mesma família.
Vários indícios apontavam para um plano de extermínio daquelas vítimas, ao contrário de simples latrocínio.
“Quem sairia atirando com uma arma tão poderosa no meio do trânsito para roubar um automóvel, quando os ‘puxadores’ profissionais agem com extrema calma nas ruas sossegadas, na calada da noite?”
Naquele dia, de manhã, tendo telefonado para o Doutor José, marcou com ele uma entrevista para dar conta do que havia conseguido naqueles nove dias de pesquisas, já que o tutor da menor assassinada se empenhava junto às autoridades no sentido de ser o mais cedo possível esclarecido o triplo homicídio, temendo pela vida do sobrinho.
Dos suspeitos pelo assassinato do Doutor Renato, apenas restou o padrasto de Lutécia, uma vez que a mãe e o irmão da mocinha não teriam nada a ganhar com a morte dela, no sentido de receber maior parte da herança deixada pelo pai. Que vantagens poderia auferir ele com o crime era o que desejava Macedo inquirir ao advogado dos jovens.
O que Macedo desconhecia era o fato de ser Juvenal o chefe daquela quadrilha. Tendo o sepultamento dos três corpos ocorrido na tarde do dia da invasão, o rapaz dispensara os asseclas, impedindo-os de exercer o tráfico em sua ausência.