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Erotico-->8. O ENCONTRO COM MEUS FILHOS -- 22/02/2003 - 07:44 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Não deveria temer vir contar aos humanos como se deu o reencontro, no entanto, sinto-me deveras emocionado, como se fosse narrar fatos insólitos, acontecimentos dolorosos, algo que mexesse comigo ainda agora, por ter falhado na deliberação de me postar humilde, resignado, apto a receber o perdão daqueles seres.

Antes de filhos, essas entidades são tão autônomas, no etéreo, quanto qualquer de nós. Quando dizemos minha mãe, meu pai, meu irmão, estamos lembrando-nos dos relacionamentos de sangue, na carne. Ao decifrarmos a origem dos seres que se juntaram a nós em família terrestre, vamos, na maior parte dos casos, surpreender-nos.

Mercedes me havia prevenido de que Geraldo e Francisco eram espíritos relacionados a nós desde tempos remotos, embora não me despertassem para a verdade desse contato, se predominantemente bom ou mau. O ajustamento terreno leva a considerar as crianças como necessitadas de apoio e de amor, o que é natural nos pais. Entretanto, Criseide, por razões que não entendo, rejeitou os filhos, abandonando-os, seguindo rumos distantes dos laços familiares, a fazer crer em que todos nós fôssemos inimigos dela desde longínquas encarnações.

— Por que (havemos de perguntar) aceitou a maternidade para, depois, repudiar as pessoas?

Não estou empenhado em compreender o fato físico, pois é fácil de deduzir-se que a prática do ato sexual leva à reprodução, mecanismo absolutamente integrado à natureza dos seres materiais. A pergunta está a refletir a necessidade espiritual, ou seja, aquela que força os indivíduos a aceitarem encarnações de risco, previamente concordes com o sofrimento dos encontros coatos com personalidades adversas.

Por que Criseide, tendo conhecimento cármico prévio de quem iria habitar-lhe o ventre, admitiu, aceitou ou submeteu-se às gestações, deixando-se envolver, posteriormente, por critérios de separação, imergindo em si mesma, buscando as satisfações mais esdrúxulas, quando se requer das mães a sabedoria instintiva de quem ama e protege as crias, o que vemos ocorrer até entre os irracionais?

Essas cogitações, eu tive como contrafação do fato de ter levado os meninos à morte, em acidente evitável, caso me desse conta de que não estava em condições de dirigir. Aumenta a responsabilidade do motorista, entre os mortais, nos acidentes que provoca embriagado, o que se encontra na lei. Não é diferente cá no etéreo, apenas mais cresce a suspeita de que havia predisposição moral, mental ou espiritual (como queiram designar a vontade que não se configura consciente para o pensamento lógico ou para a necessidade sentimental), para levar a cabo o assassinato.

Bem comparando, é como fazem os meliantes que se drogam para efetuarem os roubos, os seqüestros, os derramamentos de sangue. Parece que criam coragem mas, realmente, o efeito é o do desígnio criminoso que não querem ver inoperante por recuos de última hora. A perturbação dos sentidos é o passaporte para a consecução dos projetos sem retorno.

Com tais idéias na cabeça, era preciso saber quem eram aquelas criaturas a quem dei origem carnal, para poder definir a extensão do crime ou a envergadura da culpabilidade. Mas Geraldo e Francisco não se apresentaram a mim com as roupagens perispirituais antigas. Vieram com as fisionomias de filhos, na idade mesma que tinham no momento do acidente fatal.

Eu olhava para eles com desconfiança, porque imaginava que essa configuração estrutural fluídica, ou seja lá qual for a melhor maneira de me referir aos seus formatos etéricos, vinha para me ferir os brios de pai assassino, para me recordar que lhes causara a morte prematura, que lhes havia prometido a vida e lhes dera o sofrimento de existência incompleta, fenecendo-lhe as esperanças de crescimento evolutivo, dando e tirando, como se as minhas conjeturas estivessem presentes na maneira deles de ver o caso.

Não os aceitei como crianças. Pedi-lhes para se vestirem com a indumentária espiritual anterior. Não me atenderam. Ou melhor, não me entenderam, correndo para mim de braços abertos, querendo apertar-me contra os corações, do modo que faziam quando tornava a casa de um dia de trabalho.

Pelo meu cérebro, as idéias faiscavam, a mais abismada a de que não havia como presidir-lhes o crescimento, porque, na espiritualidade, as crianças não têm os recursos biológicos de que dispõem na matéria. Para levá-los a compreenderem a situação em que os colocara, somente com muito amor, despertando-lhes os sentimentos existenciais. E eu, absolutamente, não tinha nenhum traquejo de lidar com entidades que se demonstravam infantis no etéreo, não só porque não me lembrava de nenhum treinamento anterior, como chegava de supetão, obnubilado mentalmente pelas dores pungentes da consciência suicida.

Punha-me na situação de carente e não de proficiente, na distribuição dos bens morais, evangélicos, cósmicos, universais. Tal terminologia mal arranjada não me conduz a conclusões incisivas. Eram idéias nebulosas que me punham inseguro e desconfiado, e que ainda agora permanecem como problema, porque não deslindei o mistério do passado.

Estou e não estou com os meus filhos. Mediante a minha indecisão, os protetores familiares, entre os quais os meus avós, arrebataram-me as crianças, para que não as levasse ao desespero, pelas vibrações que emitia eu, em detrimento do amor que deveria aplicar, na recordação sublime dos dias de felicidade que logramos na Terra. A impressão dos derradeiros tempos como que me apagava da memória a ternura infantil e eu queria ver nas criaturinhas as figuras que se escondiam a elas mesmas.

Agora me encontro mais tranqüilo, sabendo que deverei integrar equipe de atendimento socorrista a seres em descompasso com as leis evangélicas, reconhecendo que a providência do Senhor, no sentido de dotar as mentes do dispositivo do esquecimento, é fruto de sua infinita misericórdia.

Eis-me diante de mim mesmo, porque duvido de que todos os acontecimentos estejam, hodiernamente, nas mãos do Pai. Acredito que Deus aja pelos princípios implantados na criação. Pelo meus conceitos do absoluto, o Senhor não tem por que se preocupar com as passagens, os processos evolutivos, conhecedor de todas as causas e de todos os efeitos. Por isso, desrespeito a idéia da misericórdia em função dos acontecimentos transitórios e afasto a Divindade das criaturas, porque creio que devam estas, por esforço próprio, avançar na direção dos bens eternos.

O que meus filhos estão levando-me a acreditar é na benevolência das leis, é no registro eterno, executado desde sempre, no âmago de cada criatura, para que se inteirem de que o futuro final é irrevogável, ao contrário do que aprendi entre os humanos, onde a legislação prima por contemplar os direitos estabelecidos, impedindo, muito mais do que facultando, que os menos dotados de recursos de toda natureza tenham acesso aos mesmos bens que os poderosos.

Gostaria de reproduzir os diversos diálogos que tivemos, mas nada demonstraria novidade, em relação aos encontros de pais com filhos, no âmbito do Orbe Terráqueo. Inclusive, à vista do desempenho precário deles, minha linguagem acabou afirmando-se piegas, nos trejeitos e muxoxos de quem estima evidenciar apego e benquerença aos petizes.

Mercedes está demorando para vir desfazer-me as dúvidas e estou começando a crer que deverei passar longo tempo junto a este pessoal que me assiste na “Escolinha de Evangelização”, unicamente exercendo o direito de mentalizar todos os efeitos, saindo em busca de todas as causas, examinando cada pequenina atitude como reflexo da personalidade, sem preocupar-me com descobrir quem eram as pessoas que me ofenderam ou que eu tenha ofendido.

Quando rezo o pai-nosso, insisto em ignorar a verdade última da solicitação do perdão do Senhor, porque me nego, intimamente, a perdoar os meus devedores.

Deveria revelar essas impropriedades morais? Que fazer, se o contrário seria correr o risco da inverdade?!

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