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Erotico-->2. MEUS IRMÃOS -- 16/02/2003 - 06:10 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Sabem os caros leitores que meus pais me deram três irmãos. Durante largo tempo, imaginei-os antigos inimigos meus. Somente após Mercedes-espírito me explicar quem eram, é que tive o prazer de conhecer nosso passado comum. Eram companheiros de lutas existenciais, com os quais convivi desde milênios, ora na qualidade de simples amigos, ora como filho ou pai de uns e de outros, ajudando-nos mutuamente a progredir.

As recordações, contudo, não se me fizeram claras na mente, dado que nem sempre os relacionamentos se pautaram por irrestrita compreensão das personalidades.

As pessoas, no Mundo, consangüíneas, têm o vezo de desejarem livrar-se do poderio dos mais velhos, para firmarem autonomia perante a vida, no sadio desejo de testarem a capacidade de administrar o destino. É fato notório o choque das gerações. Assim, quando a família reingressa na carne, vem sabendo que nem tudo irá transcorrer em mar de rosas.

Quem poderá dizer que não teve tropelias com um ou outro parente, especialmente na idade adolescente ou no início da madureza? É o mais natural. Mesmo entre irmãos, há choques, porque uns querem exercer ascendência de diversas ordens sobre os demais, quer por estarem melhor dotados de inteligência, quer por favorecer a sociedade a que o sexo masculino se sobreponha ao feminino, quer por existir predileção declarada dos pais por um dos rebentos etc.

Quando mencionei que sentia inveja e ciúmes dos irmãos, dei relevância ao fato de ter sido o primeiro, de sorte que julgava perdido o carinho materno. Aqui deve entrar a explicação mais acertada quanto às tendências pessoais de dominação, de autoritarismo, de força intelectual resultante da audácia dos mais desenvolvidos cronologicamente.

Até os oito anos, vivi na expectativa de que os demais pudessem crescer sem se oporem à minha tirania. Mas Pedro morreu, deixando os mais novos com três anos, gêmeos univitelinos, carga dobrada de sedução para Mercedes.

Eu desejava muito acertar as contas com o assassino de meu pai, conforme suspeita da época. Desconfiara de que a morte não poderia ter sido natural. Mas nada transpirou, tanto que me levaram para o sítio da família, no interior do Estado, onde passei alguns meses com meus avós.

Anacleto, Fabrício e Carla ficaram com mamãe, espécie de punição para os desaforos que lhes prodigalizava. Pelo menos, foi assim que se me representou.

Conquanto os pais de mamãe se tivessem empenhado para me tornarem o exílio o mais ameno possível, foi com muita alegria que recebi os demais componentes da célula familiar.

Mercedes retornou sozinha para casa, tendo nós quatro ficado aos cuidados de vovó, mãe de mamãe, já que a outra, conforme mais tarde me foi revelado, rejeitou a todos nós, culpando a nora pela perda do filho. Mas essa é história da qual me inteirei bem depois.

Vamos adiantar a narrativa, porque o quadro moral está delineado.

Carla cresceu estudiosa e meiga. Apesar dos espinhos do relacionamento, sobrepujou galhardamente a antipatia que fazia eu questão de implantar-lhe na alma e chegou à idade adulta muito parecida com Mercedes, de quem herdou a faculdade artística, vindo a tornar-se excelente decoradora de interiores. Não se contentava com arranjar os ambientes, mas punha para trabalhar a imaginação, pintando quadros que se adequavam perfeitamente.

Antes, devo dizer que Mercedes nos reconduziu para São Paulo, onde nos instalamos em modesta vivenda, casa alugada com recursos provindos de meu avô.



Perdoem-me as hesitações estruturais. As lembranças estão alvoroçando-me o ditado. Peço desculpas, mas não posso refazer os parágrafos anteriores ou vou correr o risco de não ser autêntico na expressão dos sentimentos.

Não é por falta de rascunho, o qual estou impedindo-me de transcrever pura e simplesmente. Estas emoções me perturbaram, hoje de manhã, tendo tido necessidade de ser auxiliado pelos componentes do Grupo, para poder apresentar-me perante o mediador.

As recordações dos irmãos crianças me trouxeram à mente a minha própria figura infantil. Senti-me deveras impregnado de saudade, como se aquela criaturinha fosse o verdadeiro “eu”. Todos os acréscimos posteriores me transtornam e não consigo compreender como é que perdi a inocência dos desejos concretos de figurar-me importante perante Mercedes.

Esses sentimentos não são exatamente de agora. Reproduzo as sensações da época em que me tirei a vida.



Anacleto e Fabrício nunca tiveram rusgas de monta. Ao contrário da irmã, quando se viram com força para me rejeitarem, estabeleceram um como que campo de força impenetrável para as tentativas de aproximação afetiva. Visitávamo-nos em datas importantes. Nem Mercedes nos permitiria faltar às reuniões. Mas as conversas eram protocolares. Falavam dos negócios. Das compras e das vendas no comércio. Mostravam que destinavam boa soma em dinheiro para Mercedes. Censuravam discretamente os procedimentos de Carla, cujo atrevimento temático da pintura incluía os genitais nus masculinos e femininos. E me apedrejavam subliminarmente, por jamais ter conseguido sair do ramerrão do funcionalismo público, cargo de pequena expressão conseguido com a ajuda de velho conhecido, pistolão que mamãe acionou quando meus fracassos no fórum se evidenciaram, advogado fanfarrão em que me convertera, pela pretensão de defender réus confessos de crimes hediondos.



Quero referir-me ao fato de haver lido a literatura que tem sucesso nos dias de hoje. Nada do que se escreve traz a marca da clareza, da elegância, da distinção temática, da nobreza dos procedimentos. Até mesmo obras espíritas de extremado mau gosto têm sido divulgadas. Introjetei, por conseguinte, essa maneira avessa ao clássico e me predispus a não me importar, caso venha a ser acoimado de hermético.

Tenho para comigo que as reticências possam conter sugestões valiosas, de forma que o não dito passa a ter mais importância do que as longas narrativas. Trouxe-me ao comentário o advérbio “subliminarmente”, que Kardec não aprovaria, em se tratando de obras de cunho doutrinário.

Como no texto anterior, vou abandonar o posto com a impressão de que foi erro crasso me terem convocado para este trabalho, porque estou projetando no leitor a cisma de que os escritos, invariavelmente, precisarão conter as mesmas considerações finais.

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