Quando você ficar doente,
infeliz e demente,
pegarei pano quente
para abrasar seu dia.
Você cansado, na cama,
e eu ao redor, mucama,
encherei vida vazia.
Você vai ter febre, eu sei.
Pensará que nossa Lei
punirá todos bandidos.
Curarei seus delírios
com rosas e lírios.
Lamberei seus suores.
Renovarei seus sentidos.
Você, entre a vida e a morte,
achará que sou consorte,
e sua mão se estenderá
para a minha procurar.
Logo a encontrará.
Calor de nossa amizade
esquecerá saudade...
E, na hora do banho,
você não vai se levantar.
Pegarei ervas aromáticas
e água, shampoo, sabonete.
Ramalhete de flores
perfumará ambiente
embriagando-o de odores.
Minh alma boa e piedosa
vai descobrir novamente
corpo que você me deu um dia,
cheio de sonho e magia.
Sua nudez me encantará
do jeito de antigamente.
Quem sabe o que virá?
Nos seus pés cansados,
farei massagem condoída,
para curar ferida
que você ganhou na estrada
em busca do Nada.
Minhas mãos deslizarão
pelo seu corpo todo,
para limpar seu lodo.
Quando acariciar suas pernas,
de baixo para cima,
serei de novo menina.
Suas coxas abertas
contarão histórias incertas.
Seu sexo mudo e guardado
será lavado e esovado.
Talvez assim você retorne
ao mundo feliz e encantado
que eu sempre quis.
E no seu ventre escuro,
ressuscitarei futuro.
Você, doente e desanimado,
ficará bem curado.
Sobre peito onde mora coração,
darei um jeito, e você sorrirá
quando eu fizer cócega no sovaco,
tirando-o do buraco fedorento
onde você caiu e não viu
como eu estava apaixonada
e onde restei zangada...
Darei beijos molhados no pescoço,
sem qualquer alvoroço,
nesse esforço que farei
para que volte a viver
e me excite de novo.
Passarei dedos nos seus lábios.
Murmurarei junto ao ouvido.
Dar-lhe-ei abraço sentido
do perdão que você precisa.
Amor, amor, você é minha vida.
Quando você se foi, um dia,
perdi toda a alegria,
que só encontro agora
que, arrependido, chora...
Ao término do banho que lhe darei,
você será de novo rei
desse reinado encantado,
para expulsar solidão
pra o lado da contramão.
Ao invés de escrava,
serei dona de uma casa que não cai...