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Erotico-->4. O SOLDADO ANTUNES -- 09/01/2003 - 08:15 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Queria ser chamado de Antunes, porque Cunegundes Antunes da Boa Morte não considerava nome de gente. Era bom da bondade dos anjos, sempre desejando proteger os desfavorecidos e desvalidos da fortuna.

Quando viu o estado em que Cléber se encontrava no hospital, adivinhou que estava perdido num mundo de adultos, sem princípios morais. Espiritista de longa data, estimava ver os pobres progredindo nos conhecimentos da Doutrina de Kardec. Ele mesmo reservava uma hora diária para a leitura das obras da Codificação. Mas se perdia em sonhos e divagações pelas teses expostas, de sorte que o mundo dos espíritos se apresentava a ele de maneira fantasiosa. Um dia, desejou ler “Nosso Lar”, cuja autoria é atribuída a um tal de André Luís, porém, julgou tudo tão parecido com o mundo material que desconfiou de que fora o médium Chico Xavier quem havia inventado a história.

Expôs o julgamento a um dos mais experientes do Centro Espírita “Caminho e Vida” e obteve desconcertante resposta:

— Você leu com atenção?

— Li.

— Entendeu os trechos em que há descrições de órgãos do corpo humano?

— Só não me envolvi com os termos técnicos.

— Você acha que o Chico iria procurar livros de Medicina para falsificar a obra?

— Por tudo o que ele fez, acho que não.

— Então, não é coerente pensar em que a obra tenha sido ditada pelo mensageiro espiritual?

— Mas bem poderia ser por um desses espíritos inferiores classificados por Kardec entre os das últimas categorias, com o objetivo de enganar os mortais.

— Enganar em que sentido? Você não acha que nós nos acostumamos a nos enganar a nós mesmos, para impormos a nossa vontade aos demais?

— Acho que muitos fazem assim.

— Você mesmo não está, meu caro Antunes, querendo ver prevalecer a sua opinião, ainda que perante os seus próprios conceitos, hauridos, pelo que sei, diretamente em “O Livro dos Espíritos”?

— O que eu acho é que André Luís, ou seja quem for, descreve o mundo espiritual como se estivesse retratando o mundo aqui na Terra mesmo.

— É que o plano espiritual, no ambiente do Umbral, onde se situa a colônia “Nosso Lar”, está muito próximo de nós, uma vez que os espíritos que aí “vivem” e trabalham têm o mesmo teor vibratório de nossas almas. Lembre-se de que havia seres querendo lá entrar mas foram repelidos, enquanto outras entidades mais adiantadas partem para esferas mais sublimes. Sabe o que estou percebendo? Você está pensando que todo o plano da espiritualidade é reservado aos seres angelicais. Lá, sim, é que os espíritos constroem o seu espaço de maneira menos grosseira, já que são mais perfeitos que nós, sendo capazes de manipular o fluido universal de seu mundo com desenvoltura de anjos.

Antunes não disse nem que sim nem que não. O fato é que não leu aquele livro até o fim e não se arriscou a ler nenhum outro atribuído ao mesmo autor. Desejava que tudo se pautasse pelas normas superiores de Jesus, principalmente a lei do amor, para que a sociedade dos homens refletisse na Terra a condição das moradas reservadas aos santos e aos espíritos de luz. E tudo fazia ao seu alcance para que esse ideal formosíssimo se concretizasse no coração das pessoas.

Cléber era uma criança sofrida. Antunes percebia claramente que fora muito desprezada em casa e na escola, pois ninguém conseguira descobrir o modo de convencer o garoto a cooperar.

“Aos treze anos de idade, está muito velho pra tratamento de amparo físico. Em todo caso, vou dar-lhe uns abraços, tentando demonstrar-lhe que minha vibração emocional o envolve com muito carinho. Se ele se abrir comigo, vou implantar no cérebro dele os ensinamentos do Cristo. Aposto que nunca ouviu falar em espírito cristão.”

A partir daí, perdia-se em conjecturas de como os apóstolos receberam as lições diretamente do Mestre. Muitos se deixaram impressionar tanto, que partiram para a pregação das verdades pelo mundo. Houve até quem se dispusesse a escrever o “Novo Testamento” ou os “Evangelhos”, narrando o essencial da pregação e da vida do Messias, sua paixão, morte e ressurreição. Foram até além do necessário, razão pela qual Kardec precisou estudar os milagres e predições, para tornar a leitura mais racional, menos fantasiosa.

“Quem sabe a verdade estivesse mesmo com os Evangelistas!... Não teria o Codificador da Doutrina Espírita tornado muito materializada a interpretação, segundo os parâmetros das ciências de que tanto gostava? Não tivesse recebido o apoio de tantos espíritos de luz, inclusive do Espírito de Verdade, e eu seria bem capaz de dizer o mesmo que disse a respeito do livro de André Luís.”

Mas esses sonhos ou fantasias ocupavam muito pouco tempo do soldado, que inventava inúmeras tarefas complementares, para o efeito da proteção que devia ao povo profissionalmente.

Com Cléber, desejou fazer com que o rapazelho visse nele o braço forte em que se apoiar, para enfrentar as desditas da família e da escola. Farejou que o pequeno não se viciara ainda. Talvez um cigarro ou outro, nos banheiros de casa e da escola, sob influência de colegas mais velhos. Mas não punha a mão no fogo por ele, que a mocidade atual é muito mais viva e experiente que os pais trabalhadores, os quais se satisfazem com um ou dois pileques semanais, na companhia dos que se comprazem em maldizer a sorte.

Levou-lhe os remédios, tirando algum do bolso ou buscando na farmácia do Centro Espírita. Ao mesmo tempo, assumiu o papel de orientador espiritual, lendo trechos de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, buscando interessar o protegido pela vida espiritual. Entretanto, como veremos no capítulo seguinte, esbarrou em imensa dificuldade: a incompreensão quanto à necessidade do sofrimento.

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