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Erotico-->27. SERENIDADE ELOQÜENTE -- 25/12/2002 - 07:05 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Adentrei a câmara de reflexões sem ansiedade. Transformara-se a análise do “ego” em estudo isento de emoção. Sabia exatamente qual era o trabalho do dia e me punha com o máximo de boa vontade para realizá-lo, em prol do desenvolvimento da personalidade. Tinha certeza de que todo acréscimo positivo iria redundar em benefício da função socorrista a que aspirava.

Era para sentir os efeitos danosos dos relacionamentos sobre a psique? Muito bem, iria visitar o passado, desde o tempo em que me interessei por juntar-me maritalmente a Leonor.

A época do namoro fora conturbada por descobertas desagradáveis, no campo das experiências sexuais de ambos. Adquiri, mais tarde, a convicção de que nem tudo me fora contado por ela, como também omiti diversos acontecimentos importantes, especialmente a paixão adolescente pela prima Leocádia.

Tais “esquecimentos” não teriam importância, não me acusasse a consciência, mais tarde, de guardar segredos, o que me impedia de cobrá-los.

Simples recordação de conclusões anteriores me indicaram que as pessoas devem manter certos acontecimentos resguardados na memória, mesmo em relação aos mais íntimos, para que possam preservar a identidade psíquica. Todos sabemos o que se passa nos processos fisiológicos. Bem por isso é que não saímos a proclamar que a digestão está sendo fácil ou difícil. Se houver degeneração prejudicial à saúde, há que se procurar profissional médico competente. As patologias com conseqüências no comportamento é que devem ser motivo de preocupação.

No campo dos relacionamentos afetivos, a exigência de absoluta revelação de todos os incidentes com as pessoas é que deve ser tida na conta de procedimento alienado dos interesses vitais. O ciúme, recrudescido por desejos de domínio sobre o ser que se dá por amor, revela incompetência sentimental, própria das pessoas inseguras.

Essas considerações, eu as fazia, aplicando os conceitos à atitude de posse sobre a esposa. Levantava o quanto havia de aprendizado sociocultural subliminar e chegava à conclusão de que a opinião pública tinha poderosos elementos de estruturação mental, objetivando a defesa dos valores correntes, como forma de manutenção do “status quo”. Contudo, não me abstinha de culpar-me pelos exageros, de sorte que o exame se fazia ponderado e lúcido. O enfoque da tragédia final demarcava os limites dos excessos e o prisma das múltiplas encarnações abria a perspectiva para a herança emotiva.

Revi a tarde da descoberta da infidelidade. Intrigava-me o fato de não haver investido contra os amantes em pleno ato sexual. Punha-me atento para as misérias psicológicas e percebi que Leonor não se satisfazia plenamente comigo. Imaginei que, se fosse feliz com outro, poderia amar-me mais ternamente. Afastei-me tristonho do local da cena erótica, não por me sentir traído, mas por reconhecer que meu desempenho na vida era inferior. Rapidamente, perlustrei as diferentes situações que exigiam vigor intelectual e me encontrei estúpido, interesseiro, medroso. Se retirasse o tônus pejorativo da expressão, poderia concordar em que era, realmente, “corno manso”. Quando me sentei à soleira da porta, decretava que o futuro seria acomodado às frustrações.

Refiz o desejo de resolver os problemas pessoais, para implementar as virtudes que me levariam ao socorrismo evangélico, e percebi que evoluíra, significativamente, no campo das deliberações inteligentes e corajosas.

Em breve prece, agradeci ao Senhor o discernimento atual e perdoei, de coração, aqueles dois seres. Restava-me saber se fora perdoado, mas isso não se anteciparia em relação à conclusão do curso que freqüentava.

Deixei a saleta antes de ouvir o sinal e prossegui a meditar sobre os acontecimentos, pondo de lado a representação imagética. Importava-me com as deduções morais, espirituais. Algum tempo antes, desfecharia contra mim mesmo tremenda descarga de verberações, transformando as atitudes da fraqueza ou as da força em sentimento de culpa. O interesse daquele momento era voltado para as soluções.

Quando recompus o momento terrível do enforcamento, dei por mim perpassando os sofrimentos das Trevas, buscando justificar as mágoas, como feridas provocadas no amor-próprio pela incompreensão de como se dá o entrelaçamento afetivo entre os seres que se deveriam amar.

Cheguei a reproduzir, um a um, os impropérios que atribuí a Leonor. Não me pareciam já a manifestação da dor ou do ódio da esposa. Poderia ser, como também poderia não ser. Consignar como vibrações prejudiciais da parte dela, estava verificando ser mera precipitação.

Concentrei-me na possibilidade de todo o castigo provir da consciência. Eliminava, desse modo, a existência de local, no mundo objetivo, onde os espíritos em falta para com as leis do amor, do progresso e da solidariedade sofressem o revide justificado dos agredidos, em ondas vibratórias dolorosíssimas, porque de mesma freqüência. Se tinham tais verberações o mesmo teor, por que não caracterizá-las como resultante da mesma concepção errônea que me levara ao suicídio?!

Por mais que me estivesse incrustada na mente a idéia de que me matara para ferir Leonor, tinha de reconhecer que me voltara contra mim mesmo, na constatação permanente de ter fracassado na vida. Punha na bebida e nas condições sociais adversas a responsabilidade pela vertiginosa queda, chegando ao cúmulo de acreditar-me o anjo vingador das “Escrituras”. Esquecia-me da existência como dádiva do Senhor. Materializara-me absurdamente e fizera de mim o que deixara escrito no código genético a partir da formação espiritual, da qual não soubera fugir.

Para superar a perspectiva de novos insucessos em encarnações vindouras, teria de compreender as causas últimas do procedimento, desde tempos muito antigos. Mas essa compreensão não necessitaria ser ilustrada pelos vídeos da memória. Bastava-me saber que as pessoas que me rodearam deveriam ter recebido assistência, na qualidade de familiares e de amigos. E essa tinha sido a pior parte de meu desempenho. A rigor, cheguei a pensar, o suicídio não recebera penalidade alguma. Todo o sofrimento deveria imputar pela sofreguidão com que desejei impor-me a todos.

Analisei o sonho em que determinava a morte de tanta gente, inclusive de familiares. Poderia ser a recordação de outro encarne ou a alegoria de como tratei, concreta ou mentalmente, os entes com quem convivi em época recente. De qualquer modo, a atitude de mando, que havia visto refletida na docência, é que causara todos os transtornos. Precisava aprender a humilhar-me perante a vontade de Deus, para fazer viger a verdade nos relacionamentos.

Teria amado a esposa e os filhos? Teria amado os pais e os irmãos? Teria amado Leocádia e as outras? Teria amado os alunos e os companheiros? Teria amado a vida e a humanidade? Teria amado a Deus sobre todas as coisas?

O toque do sinal me despertou para a próxima etapa do dia. Quem sabe os amigos, os irmãos de grupo pudessem esclarecer-me. Notei que, espontaneamente, não requisitara a presença de Honorato. Graças a Deus!

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