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Erotico-->21. O CLIMA DA REUNIÃO -- 19/12/2002 - 08:07 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Quando adentramos o recinto das discussões e deliberações setoriais, notei, desde logo, que o pessoal vinha acabrunhado. Seria efeito das recriminações de Mário ou todos teriam passado por crises semelhantes às minhas?

Honorato me pediu para ouvir antes de tirar conclusões. Poderia vir a ser instrutivo.

Mariana iniciou os debates, com sincera apreciação:

— Mário foi fundo nas reprimendas. Por mim, julgo justíssimas. Mas não vou deter-me para lamentações improdutivas. Já combinei com meu avozinho — espero que vocês também com os seus — que iremos avançar nas pesquisas emocionais de minha mentalidade. Não sei se José e Alfredo estão de acordo. Penso que Roberto, sempre bom amigo, no sentido de discutir abertamente os temas, venha a corroborar minha opinião. Quanto a Aristides e a Dorotéia, devem satisfazer-se com as normas estabelecidas, cordatos que são com tudo que não lhes toca diretamente.

Preciso explicar que, dos seis componentes do grupo, os dois últimos pouquíssimo falavam, julgando-se inferiores em discernimento e procurando compenetrar-se das razões dos demais, dizendo que eram novidades sobre que não tinham pensado. Aristides saíra da vida por um tiro dado no ouvido, quando surpreendido pela polícia dentro de uma loja. Não era bandido procurado. Era pai de família desesperado com recente desemprego. Na primeira ocasião, de repente, estava na horrorosa condição de malfeitor. Envergonhou-se e acabou com a vida. Não tinha como oferecer à família o respaldo da moralidade maculada. Dorotéia era apenas dona de casa, analfabeta, inculta. Quando soube que estava muito doente — diagnóstico de câncer em estágio avançado nas mamas —, matou-se, tomando formicida. Aristides tinha dificuldades de audição.; Dorotéia, de fala.

Percebi que Mariana apenas queria espicaçar a rebelião de cada companheiro, para exposições totalmente francas dos pensamentos. Fizera referência mais específica às minhas intervenções, porque era eu quem dava início aos debates e, naquela hora, estava resguardando-me. Senti forte comichão para responder, mas Honorato me segurou.

Como ninguém se atrevesse a participar, eu, pelo medo de perturbar, já que me via inibido pelo instrutor, os demais, com certeza, para não revelarem as pequenas vergonhas das intimidades, Mariana prosseguiu:

— Considerei as lembranças e concluí que as pessoas de meus relacionamentos não foram tão perniciosas para minha formação quanto pensei de início. Vamos começar por aí. Já que estão com medo de falar, levantem a mão os que também tiveram as mesmas reações.

Todos confirmaram as suspeitas da colega.

— Então, vou abrir o jogo. Dei de mim a diversos homens, desde a idade dos doze anos. Na época, pensava que estava me aproveitando das vantagens sexuais, buscando o afeto de homens mais velhos. Não gozava, mas sentia muito prazer. Só no quinto é que atinei que poderia chegar ao clímax com a penetração. Estou sendo grosseira? Estarei chocando as susceptibilidades? Então, me resigno ao papel de enfermeira acostumada a limpar feridas, a fazer punções...

José quis ser gentil:

— Sei que está a irmãzinha querendo pôr-nos à vontade. Na vida, também tive intimidades com diversas mulheres. Era casado e, durante o casamento, me mantive fisicamente fiel. Não posso dizer o mesmo quanto aos aspectos mentais, pois desejei, sim, e muito, as mulheres dos próximos e dos distantes. Masturbava-me regularmente. Mas jamais admiti a quem quer que fosse que pudesse ser anormal. Fazia tudo escondido, inclusive de minha mulher. Quando me resguardei na cabina, esse aspecto preponderou nas dificuldades que senti para a manutenção de vida matrimonial plena de amor e confiança. Assim como cuidava das máquinas dos outros, dos motores, dos carros, também cobiçava ter o melhor para mim. E minha mulher, coitada, deu-me sete filhos, sem saber que eu os procriava pensando nas outras.

Estimulados pelas confissões, os demais pretenderam dar seus depoimentos.

Dorotéia, com visível esforço, testemunhou:

— Em criança, brinquei de sexo com os rapazelhos da vizinhança. Fiquei, depois, sabendo, que o cacarejar que ouvia à minha volta significava que era fácil e que passava de mão em mão. Há muita perversidade nos meninos, quando alguma fêmea se mostra... fraca...

Mariana veio em socorro:

— Foi Jesus quem nos disse que a carne é fraca, querida.

— Mas não me desvirginaram. Eram coisas de crianças. Fui para o leito nupcial com o hímen em perfeitas condições. Mas ocultei do marido todas as brincadeiras. E passei a viver intensa vida sexual, embora não tivesse tido filhos. Esclareceu-me o orientador que o câncer dos seios talvez não se tivesse manifestado tão cedo, se tivesse engravidado e amamentado. Contudo, não estaria em mim fabricar crianças, pela natureza do meu marido. Pelo menos foi isso que os médicos nos disseram. Com a doença, fiquei muito deprimida e levei o pobre a buscar outras mulheres. Fechei-me para o prazer, acusando-me de ter desnaturado o corpo pelas intimidades de menina e pela “depravação” de adulta. Acreditava que, se contasse tudo a ele, iria sofrer gravíssimas conseqüências, já que não iria entender que a mulher pudesse ter...

Na iminência de desandar sentimentalmente, os instrutores todos se cotizaram energeticamente e ministraram descarga fluídica poderosa para restabelecer-lhe o tônus vibratório. Os companheiros viram quão grande tinha sido o sacrifício da querida parceira e nos esforçamos para reequilibrarmo-nos emocionalmente.

Algum tempo iria passar, até que Alfredo se manifestasse:

— Se a sessão está destinada a confissões de caráter íntimo, devo dizer que esses problemas não me assoberbam há muito tempo. No último encarne, praticava o ato sexual perante quem estivesse no recinto. Estuprei muitas mulheres e deflorei jovenzinhas na presença dos maridos e dos pais. E me ufanava disso junto aos que comigo repartiam as maldades. Nunca me pus “arrepiado” moralmente, até que, nas Trevas, me vi perseguido pelos ofendidos. Não compreendia a causa da fúria. Achava que eram falsos. Que faziam às escondidas o que eu praticava à luz do dia. Necessitava eu desabafar o calor dos desejos? Ia atrás da primeira que encontrasse. Mulher, no sentido de esposa, companheira, mãe de meus filhos, nem me passava pela cabeça. Eis pequeníssima parte das culpas. Não quero estender-me muito sobre o tema, a não ser que possa ser útil na exemplificação negativa, uma vez que tenho para mim que há desejos íntimos, pelo menos no que diz respeito aos machos, de viver do jeito libidinoso que fiz. E não são poucas as mulheres que gostariam de fazer o mesmo, se lhes fosse permitido pela sociedade ou se pudessem esconder de quem se sentisse magoado. Em suma...

Mariana interferiu:

— Não vamos falar em tese. Poderemos voltar ao tema, depois de ouvirmos os dois que faltam.

Fiz sinal para que Aristides falasse. Não havia como se fazer de desentendido:

— Eu participo das idéias de José e de Alfredo. Devo dizer que desejava ter liberdade sexual com muitas mulheres. Na verdade, só conheci prostitutas, antes do casamento. Talvez por isso, desinformado de como as mulheres reagem no leito, pretendi ter com a esposa certas liberdades aprendidas com as profissionais. Entretanto, a pobrezinha, mais nova que eu dez anos, pois não admitia que a minha mulher pudesse ter tido qualquer experiência sexual, se assustou comigo e jamais deu demonstração de que gostava do ato. Mesmo assim, pusemos no mundo quatro criaturas.

Notei que o amigo fizera esforço sobre-humano para expor as impropriedades da vida sexual.

Chegara a minha vez de relatar o que compreendia como problemas de caráter particular. Enquanto os demais abriam os corações, percebi quanto útil fora a discussão com Honorato. Não tive nenhum trabalho e discorri por mais de meia hora, minuciosamente, sobre todos os “segredos” da vida com a prima, as namoradas e as meretrizes. Quando encerrei a participação, Mariana protestou:

— Espere aí, querido Roberto. Entendi a manobra. Quis demonstrar que está bem à vontade e falou sobre particularidades que nenhum de nós quis revelar. Sei que são resquícios da vergonha de demonstrar sentimentos inferiores. Haveremos de aprender a ser tão detalhistas quanto você. Mas o que nos contou não é tudo. E a vida marital? Como se houve com a esposa?

Na realidade, não havia escondido de modo proposital essa fase importante. É que não chegara lá nas rememorações. A explicação não convenceu.

Alfredo foi mais cordato:

— Roberto deve ter perigoso trauma nesse capítulo. Vamos dar-lhe mais tempo, desde que nos prometa ser verdadeiro, como tem sido até agora.

Mariana não se conformava:

— Mesmo que não tenha mentido sobre não ter tido tempo, pelo menos nos diga se está tendo a dificuldade lembrada por Alfredo.

Fui salvo pelo sinal. Estava encerrada a reunião. Rapidamente, autorizamos Mariana a falar em nome do grupo na plenária que se seguiria.

Ficou-me, todavia, a idéia de que, talvez, Alfredo pudesse ter razão. Se o tema da próxima sessão no gabinete de reflexões permitisse, iria vasculhar os arcanos da memória para decifrar o mistério. Decidira-me a vencer as resistências dramáticas da psique.

Honorato segurava-me fortemente o pulso, como a impedir-me de fugir de seu controle. Reconheci que não era a hora mais adequada para levantar suspeitas de cataclismas sentimentais e me recompus para a assembléia. Será que Mário teria motivos para novas admoestações?

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