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Erotico-->20. IMPASSE -- 18/12/2002 - 08:01 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Se me retirava feliz para reencontrar Honorato, não pensara direito sobre o que expor a ele e aos colegas.

— Então, o meu afilhado está hoje mais calmo, mais compenetrado da necessidade de controlar os transbordamentos sentimentais?

Haveria algum ranço irônico nas apreciações de meu bisavô? Desconfiei.

— Verifiquei vários encontros frustrados de minha vida amorosa e cheguei ao surpreendente resultado de que não me afetaram em nada. Pareceu-me que, na vida, a gente tem contactos com seres que entram para a nossa zona de atuação e depois saem, como se não tivessem tido qualquer influência. Não deixam marcas. É bem diferente dos parentes e das pessoas que acrescentamos por compromissos sérios. Às vezes, até a lembrança é terna e a recordação prazerosa.

— Narre-me os casos analisados.

Naquele momento, não tinha a desenvoltura da descrição isenta. Quem tiver lido o capítulo anterior, deve pensar que as coisas se passam com total serenidade. No entanto, as confissões nem sempre são fáceis. Posso dizer, sem medo de errar, que todos os colegas foram capazes de relatar os assassinatos e os suicídios e todas as tropelias conseqüentes, até mesmo os atos de injustiça contra o Criador, com muito maior isenção emotiva. Quando, porém, se tratava de contar os eventos menores, realizados entre quatro paredes ou no escurinho do cinema ou do jardim, todos se envergonhavam, acreditando estarem pondo a nu algo que consideraram naturabilíssimo, embora não de domínio público. Lembrei-me de um amigo que engravidara a noiva. Casaram mas o fato só foi conhecido quando a criança nasceu, mesmo assim com a desculpa de ter sido prematura, imaginem, com três quilos e oitocentos!

Meu avô dava tempo para os ajustes psíquicos. Media as dificuldades, com certeza, pelas flutuações da aura. Eu é que não tinha competência para auferir o teor vibratório dos seres por esse método avançado. E deixava-me levar pelos pensamentos, constituindo o quadro provisório dos apanhados racionais dos temas em discussão.

Assim mesmo, em pouquíssimas palavras, contei-lhe o que ocorreu em relação à minha prima e às três namoradas. E terminei interrogando:

— Será preciso configurar o que se passou na intimidade dos casais, com riqueza de detalhes? Sinto-me envergonhado. Pensei em desculpar-me por tratar-se dos segredos de outras pessoas e não só meus. Mas isso seria hipocrisia. O fato é que não me sinto bem expondo as ganâncias sexuais. Sei que a natureza determina a libido e os anseios do acasalamento, como também sou capaz de estabelecer as influências culturais e religiosas que tornam a sociedade precavida quanto à possibilidade de “pecar”. O que não entendo é por que ainda tenho na mente essa...

Honorato não quis ajudar-me com a palavra. Esperava que me definisse quanto ao pensamento. O que estava tentando passar-lhe era o fato de não estar à vontade perante o ilustre instrutor, moralmente situado em patamar elevadíssimo para minha capacidade de entendimento.

— ...esse prurido de...

Vendo que me atrapalhava, Honorato desejou pôr-me à vontade:

— Quem pensa você não ter tido relacionamentos sexuais, em qualquer das existências? Eu, por exemplo?

A observação vinha em meu socorro, no sentido da reciprocidade das confissões. Se o mestre me pusesse a par de acontecimentos de mesmo gênero, iria obrigar-me a definir os desejos meramente carnais, sem o contrapeso da responsabilidade. Se eu tivesse engravidado alguma das jovens, assumiria a paternidade da criança ou desapareceria de circulação?

Intuitivamente, Honorato me passava o fulcro da questão.

— Quer dizer, queridíssimo orientador, que as pessoas aceitam, espontâneas, o prazer pelo prazer, sem o correspondente apelo da natureza pela procriação?

— Não vá tão depressa aos “finalmentes”. Passe antes pelos “entretantos”. As pessoas não podem ser consideradas todas iguais e perfeitas quanto às decisões. Na carne, estamos constantemente sendo postos à prova pela consciência. Somos forçados pela constituição orgânica a executar os atos da procriação, da mesma forma que nos alimentamos. Isto é extremamente simples. Além disso, temos de aprender a exercer a cidadania ou a convivência em termos morais evangélicos. Esse aprendizado corresponde a série imensa de exercícios. Nem sempre a primeira pessoa que nos agasalha sentimental e sexualmente é a que se destinou por carma a nós.

— Quem tem a força de “destinar”?

— Aplicam-se as leis das afinidades e dos débitos. Nenhuma encarnação se dá isolada dos demais seres, ou nasceríamos do areal do deserto ou da profundeza do mar. Temos pais, que nos recebem e encaminham. São entidades espirituais, antes e acima de tudo. São encarnados, em segunda instância. Aí se configura o planejamento. Não concorda?

— Plenamente. Só não sei se os seres estão sempre disponíveis emotivamente, para compreenderem que estão prestes a ingressar no seio de determinada família, principalmente se têm consciência das desavenças de antigamente.

— Você está no caminho certo. Examine o fato de que possam existir seres mais adiantados e outros mais atrasados. Existem?

— Sim.

— Os mais atrasados, não tendo condições intelectuais (diria melhor, espirituais) para efetuarem projeto de vida condizente com suas necessidades, ficariam à mercê das circunstâncias, podendo obter sucesso ou insucesso. Está claro?

— Sim.

— Os mais elevados moralmente (diria melhor, espiritualmente), exercendo atribuições socorristas, se veriam coagidos a auxiliar os infelizes. Veja os mestres desta instituição.

— Os professores...

— Também.

Honorato passou batido pelo gracejo que eu intentara fazer, lembrando o interesse de Mário por ser chamado de professor. Contentava-me eu em ir à deriva? Exigia ele compenetração, que o assunto era mais sério do que me pudesse estar parecendo. Fez-me ver, de relance, que as explicações poderiam interessar-me pessoalmente.

— Ora, unindo o discernimento dos mais preparados com o desejo imanente de melhoria dos mais atrasados, chegamos a um só resultado: é do interesse de todos que se ajudem os ingressantes na carne, para que obtenham o melhor proveito da vida.

Senti que nos afastávamos do ponto essencial que era o fato de eu estar enovelado quanto à revelação dos fatos íntimos, como sintoma de tendências pragmáticas, na absorção de todos os prazeres, mesmo à custa das decepções alheias. As jovens de minha convivência poderiam ter significado apenas testes e motivos para aprender. O.K. Mas se tivesse ocorrido de uma delas, verdadeiramente, apaixonar-se por mim? Não poderia supor que, por meu intermédio, sofresse, deveras? Não há casos até de suicídios, por conta de amores não correspondidos?

— Meu caro, se você acreditar que uma única encarnação irá ser suficiente para que aprendamos tudo, é melhor voltar a estudar o catecismo evangélico. A reencarnação é fundamental para darmos prosseguimento aos projetos que estabelecemos para evoluir harmoniosamente, segundo os preceitos das leis de Deus. Talvez não esteja preocupado em ir depressa. Mas asseguro-lhe que deve ir mais firmemente. A amenidade da derradeira sessão rememorativa está pondo à mostra outra faceta do arcabouço psicológico. O gracejo demonstrou superficialidade de interesse. Será que essa não é clara tendência de seu espírito? Se assim for, eis o passo imediato a ser dado, na direção das próximas lições. Caso contrário, não absorverá com propriedade os fundamentos dos estudos.

Honorato queria, na realidade, demonstrar que estava muito longe o dia em que eu caminharia pelas próprias pernas. Dava-me o resultado da contagem da pulsação, para demonstrar-me a necessidade do medicamento. Desnudava-me ele a mim, que não tivera coragem de fazê-lo.

Aprendi a lição? Era o que restava saber, quando me deparasse diante dos colegas, para cuja companhia a sirena nos chamava.

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