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Erotico-->19. VISÕES MAIS CALMAS -- 17/12/2002 - 07:50 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Acostumava-me a passar as noites bem tranqüilo. A ansiedade característica de quem tudo deseja saber logo cedia a vez à confiança de que “o amor do Pai cobriria todos os pecados”. Ao me deitar, orava para dormir, simplesmente. Já não me assanhava pelas revelações do repositório das lembranças. Punha a esperança em que os quadros da cabina me desvendariam o suficiente com que me entreter durante o dia de trabalho. Não dissera o Senhor que bastava o mal do próprio dia? Não propugnara que as pessoas solicitassem o pão de cada jornada? Ficava contente com a determinação de enfrentar os problemas aos poucos, para poder resolvê-los todos.

Quando me vinham à memória as solicitações que fizera a Honorato, arrependia-me do açodamento. Por que, diante do protetor, demonstrava falta de serenidade, quando, a sós, me reequilibrava emocionalmente? Seria por que me diminuísse moralmente e desejasse superar a inferioridade, dando demonstrações de altos interesses?

Meditava e chegava à conclusão de que os temas estavam acumulando-se, contrariando o desejo de ir paulatinamente conhecendo-me melhor. O templo de Delfos trazia a inscrição que o sábio grego fizera de “slogan” para a pregação filosófica, conforme lera na cartilha. Como passara ao largo de preceito tão antigo?

Orava de novo e pedia para conhecer-me a mim mesmo, assim que possível, prometendo melhorar o desempenho.




Na manhã seguinte, acordava bem disposto. Olhava para as cicatrizes. Queria vê-las desaparecer. Qual nada! Estavam firmes. Honorato explicava:

— Vamos devagar com esse andor que o santo é de barro!...

Parecia querer lembrar-me da disposição noturna.

Naquele dia, entrei na câmara de reflexões disposto a cumprir as normas estabelecidas pelo Professor Mário. Resolvera ficar isento de reações psíquicas de mau teor. A campainha de alerta para o socorro estava à vista. Resolvi ficar bem perto dela, caso me desesperançasse.

A meditação deveria revelar as dores sentimentais provocadas pelas pessoas. Resolvi começar inventariando os casos em que meus pais ou meus irmãos me causaram preocupação, desde a primeira infância. Aos poucos, fui constatando que não sofrera, na realidade, concussões emotivas. O que me parecera tão penoso no aspecto físico, resolvia-se facilmente pela vontade contrariada, pela inveja ou pelo ciúme. Se fosse atribuir esses sentimentos como reação a lídimas malquerenças dos demais, iria ser injusto. Eu é que não compreendia direito o que se passava. Inclusive aquela tremenda surra de cinto, acabei achando que mereci. De fato, ficava provocando meu irmão até vê-lo chorar. Naquele dia, deixei-lhe a barriguinha roxa.

Parei para considerar o contraste das ilações. Se meu pai me deixara marcado para o resto da vida, trazendo na alma os vergões da coça, meu irmão também não poderia carregar consigo os beliscões?

Fiquei contente por não ter iniciado a relação por tão grave acontecimento. Fui avançando a idade até os dezesseis anos. Aí, precisei parar, que houve novidade grossa nos relacionamentos sentimentais. Entrou a figura de graciosa jovenzinha, por quem arrastava as asas dos desejos, desde os treze anos. Era minha prima Leocádia, mais velha que eu, mas miúda e desenvolta. Brincávamos muito juntos e tínhamos algumas liberdades corporais, não se resguardando ela de se trocar à minha frente. Mas não tinha seios. Quando apontaram, em vão lhe pedia para que mostrasse. Talvez, se o fizesse, fosse pedir outras coisas. Camuflava minha presença e pretendia surpreendê-la em trajes menores. Jamais consegui. Aliás, o que se concretizou foi sua antipatia por mim.

Nunca lhe disse que gostava dela ou que desejasse namorar. Mas me sentia autorizado a envolvê-la com os desejos libidinosos. Naquele dia marcado para a dor sentimental, encontrei-a aos beijos com um pelintra do bairro, mais velho que eu quatro anos, com barba e bigode. Não gostaria de dizer, mas as carícias que trocavam estavam muito acima das que imaginara para nós.

Fiquei arrasado, jovem e inexperiente no trato com as mulheres. Não fui capaz de entender que nada fora para ela, além de companheiro de folguedos, de resto, sem criatividade e sem inteligência.

Na câmara, hesitei em registrar o fato como decisivo, importante, significativo ou exemplificativo de situação que não tivera outra conseqüência senão a de pôr-me de sobreaviso para futuras decepções, obrigando-me a pensar em ser mais direto e honesto com as mulheres.

Mas não pude deixar de assinalar que me perturbei, no sentido positivo, enchendo-me de saudade, de gostosa saudade, daqueles dias que antecederam à “dramática” descoberta.

Achei que devia vasculhar a memória para outras situações de mesma contextura emocional, contudo, a consciência me alertou para o tema específico.

A reação em busca dos melhores momentos fez-me suspeitar de que estaria temendo avançar para os dias mais tristes. Medo, porém, era o que insistira em não ter, antes de adentrar o recinto protegido.

Cauteloso, fui avançando. Lembrei-me de três namoradas que me fizeram feliz e depois infeliz. Todas me permitiram as intimidades que Leocádia proibira. Isso me levava a querer experimentar mais e mais, com outras...

Os namoros tiveram fins diferentes. Duas me repudiaram, simplesmente, por não me constituir em companhia agradável. No começo, senti-me ofendido em meu orgulho de macho. Em seguida, outros encontros, outros flertes, outras aproximações mostravam-me que os fatos ficavam no passado. A terceira, eu deixei, em prantos, ela e eu. Tinha de partir para o serviço militar. Pediu-me que desertasse. O meu amor não dava para tanto. Prometi que voltaria para os seus braços. No quartel, os companheiros de farda me proporcionaram várias aventuras mundanas. Conheci as mulheres mais um pouco. Quando regressei, vinha com a idéia de dizer adeus à pobre abandonada. Não foi fácil de localizá-la. Quando a achei, estava esquiva. Parecia uma madalena arrependida. Mostrou-me a aliança no dedo anular direito. Comprometera-se. Disse-lhe alguns impropérios, acusei-a de infidelidade e me retirei, ofendidíssimo.

Ao examinar o procedimento, notei que, ao invés de receber os influxos negativos, eu é que estava emanando fortes vibrações contra as pessoas. Será que tais eventos contavam ou deveria insistir na descoberta das contrariedades provocadas em meu sentimento?

Observei a sineta e reconheci-me bastante ponderado para não ter de acioná-la. Quando intentei prosseguir o exame, soou o aviso de que a sessão terminara. Outra vez não alcançara cumprir o desafio proposto por Mário.

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