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Erotico-->18. O PENSAMENTO DE MÁRIO -- 19/09/2002 - 06:02 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Por que o médico, afinal, tinha deliberado arriscar, conduzindo Isabel ao filho? Havia a certeza de que Leandro iria tomar conhecimento de que estava a par de tudo. Raciocinara assim:

“Se o traficante estiver utilizando o filho como isca para apanhar Isabel, tendo montado todo o esquema de observação, com o acrescentamento de guardas desnecessários na segurança, já que não há perigos tão grandes de invasões de delinqüentes, deverá desarmar-se, ao constatar que a mãe esteve junto ao filho, levada por mim, sem nenhuma tentativa de seqüestro. Por outro lado, se ele me afastar do tratamento, já que pouco posso fazer pela criança, havendo pediatras habilitados, aí poderei suspeitar de que...”

Embatucava. Não queria admitir que o fato de estar agasalhando Isabel pudesse desfazer o reconhecimento por todo o prestimoso serviço de atendimento hospitalar sob sua orientação. O menino lhe devia a vida, sem dúvida, porque não se afastara de sua cabeceira nos momentos críticos. Ansiava também por definir de vez a situação. Toda a tensão causada pelo rapto dos filhos e mais a terrível cobertura que tinha dado a Isabel estavam causando-lhe forte abalo emocional. Não se declarara a prevista dor no estômago, mas não demoraria muito para Marlene cair em estafa. O período de descanso no Nordeste fora valioso, mas o retorno ao clima de expectativa, acrescido da eclosão leucêmica do pequeno, fizera reaparecer o estresse provocado pelas incertezas do dia, pelo medo de sempre.

“Se essa visita não tiver o condão de me chamar à presença do sacripanta, ficarei muitíssimo aborrecido, pois tenho algumas palavras...”



De fato, naquela noite, foi tirado do leito, para subir o morro. Mas estava preparado.

De novo, no escuro, ouviu a voz de Leandro a inquiri-lo:

— Levar Isabel para ver o filho foi idéia tua. Que pretendes com isso?

— Não quero que o meu protetor, a quem devo a vida dos meus filhos, fique na ignorância de que estou tratando também da mãe do filho dele.

— Sabia disso desde a tua viagem.

— Não falei antes, porque estava com muito medo.

— E o que te faz acreditar que estás melhor agora?

— O meu medo é de passar por ingrato, por não reconhecido. Se o senhor pensar que sou traidor, sei que meus dias estarão contados.

— Com certeza.

— Pois Isabel me procurou para arrumar emprego no hospital, sem saber que o pai é a pessoa que comanda esta organização. Naquela hora, achei melhor não deixar que estivesse perto do filho. Falava em ficar com ele. Não queria que o pai se apoderasse do menino. Estava amargurada e vingativa. Atualmente, só fala em educar a criança, em dar-lhe um lar sadio. Fiz que entendesse que o pai também tem direitos, principalmente porque ama muito a criaturinha...

A conversa estava alongando-se demais. Leandro interrompeu:

— Em suma, o Doutor quer me convencer de que aquela putinha está regenerada. Será que ela deu também pra você?

Fez silêncio, como se esperasse por confirmação.

— Se o que eu disser vai ser mal interpretado, estamos todos perdendo tempo. Não quero tirar-te a razão, mas a verdade...

— A verdade é o que poderei apurar, mandando buscar aquela filha da mãe pelo mesmo caminho que o Doutor subiu. Nada que uns bons pontapés não resolvam.

Mário resolveu não chuchar o leão com vara curta. Calou-se, aguardando permissão para falar.

Passaram-se longos dez minutos, durante os quais, no silêncio da noite, se ouvia o rumorejar longínquo da cidade, ecos de buzinas, de sirenas, de tiros, de gritos e o som apagado de uma discoteca.

— Doutor, eu acho que foste bastante atrevido. Mas eu não gosto dos covardes. Se não incendiei a tua casa, com todos dentro, foi porque eu não teria nenhum lucro com isso. Ninguém aqui é burro nem inconseqüente, em relação aos negócios. Apliquei uma verdadeira fortuna nesse esquema de segurança de meu filho e não pense que, se Isabel tivesse tentado pegar a criança, iria sair viva do hospital. Nem ela nem quem estivesse junto. Você está dispensado de cuidar do menino. Sei que está melhor mas que deverá ficar internado por mais tempo. Eu poderia levá-lo para qualquer clínica do país ou de fora. Vou mantê-lo lá, na companhia da imbecil da Raimunda. Sei que conversam muito ou, pelo menos, ela fala com ele. O que eu quero agora do Doutor, já que começou, é que fique com Isabel em tua casa até o momento em que irei atrás dela. Se ela voltar ao hospital, acabo com todos. Estou sendo claro? Claro que estou!

Era o sinal de que terminara a entrevista.



Em casa, Mário ruminava o poderio do tráfico. As armas e o dinheiro, nessa ordem, é que tinham importância para a organização. O povo era a clientela chula. O mais, a fauna e a flora na paisagem da cidade monstruosa. Ao Governo, reservava a categoria dos minerais.

“Não haverá quem enfrente esses magnatas? Quando o exército subiu o morro, apareceram alguns dos ‘redimidos’, declarando que nada devem os moradores das favelas aos poderes constituídos, nem escolas, nem saneamento, nem segurança, nem amor, nem felicidade. E quem se encontra dominando tudo? As quadrilhas do pó, do roubo, do contrabando, do meretrício, do jogo, instaladas, inclusive, em postos-chaves da magistratura, das polícias, da assembléia e da câmara. E que fizeram os bandidos, além de amedrontarem a população, trancando-a nas favelas, enquanto correspondesse com o acoitamento, com o municiamento de gente para as quadrilhas, com o silêncio da lei do mais forte? Por que eles mesmos não deram as escolas, a saúde e tudo o mais? Riram na cara dos militares e da nação.”

Sofria Mário com o fato de não poder fazer nada. Fora pedir para deixar o encargo de cuidar de Orivaldo. Nem precisou falar nada, para que fosse entendido. Mas sobrou-lhe o pior perigo. O de vigiar Isabel. Interpretou a possibilidade de o traficante internar o filho em qualquer lugar do mundo, como a iniludível ameaça de que, se fugisse, seria descoberto e assassinado.



Naquele dia, procurou o Doutor Darci, para avisá-lo de que era melhor deixar de se responsabilizar por Orivaldo. Antes de mencionar o fato, foi ouvindo:

— Mário, a partir de agora deves retornar à antiga rotina. O menino carece de cuidados pediátricos, predominantemente, e estás fazendo falta no pronto-socorro.

Limitou-se a sorrir. Que mais poderia fazer?

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