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Erotico-->40. DIÁLOGO IMPOSSÍVEL -- 27/08/2002 - 06:53 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Desde a partida de Alfredo, Carlos começou a vasculhar o etéreo, em busca de lhe ser trazido à presença o espírito do irmão. Diálogo impossível, os protetores não podiam revelar que o irmão não falecera, permanecendo em vida, por meios astuciosos.

Que fazer, então, para deixar o frustrado socorrista em paz de consciência, uma vez que via na morte do irmão a sua mão a empurrá-lo para a perturbação?

Impedido de investigar os fatos para conhecer a extensão dos males que praticara, restava orar contritas orações, no intuito de lhe propiciar reconforto e luz.

Por essa época, os filhos de Alfredo, reconhecidos pelo ex-comandante-em-chefe da organização criminosa, apresentaram-se à família do tio, para, diante de todos, firmar os direitos de que se viram investidos às propriedades. Durante o transcurso dos prazos legais estabelecidos pelo poder judiciário, temiam os novéis membros da família que alguém pudesse propor-se com direito a alguma parte do legado.

Carlos achava que as posses do irmão constituíam fortuna considerável, dado que chegara a avaliar parte dos bens. No entanto, o que mais pesava na riqueza era grande quantidade de dinheiro, em diversas contas em bancos suíços, o que desconhecia.

Não tendo vínculos sentimentais, desacostumados ao ambiente de moralidade que constitui o sustentáculo de qualquer instituição familiar, os três irmãos digladiavam-se pela posse do maior número de tesouros possível. O inventário era extenso, mas a primeira dificuldade estava em fazer correr o processo no foro cível, para configuração da veracidade das informações contidas no documento testamentário.

Alfredo não fora muito hábil em determinar os aspectos legais, mesmo porque a pressa com que tomara as decisões não se prestava à perfeição dos atos. Tendo firmado as declarações, formuladas, segundo orientação do advogado, perante testemunhas, e tendo registrado o documento em cartório, julgava que tudo se faria segundo a disposição. Mas os filhos queriam objetar, cada qual de seu lado, que os demais não eram legítimos e naturais. Para isso, haveria batalha nos tribunais, durante diversos anos.

A luta interna tendia a espraiar-se para o lado do tio, de sorte que foi preciso deixar claro aos presumíveis herdeiros que a fortuna conseguida de modo tão irregular não estava nas cogitações de Carlos, para o que registrou em cartório que abria mão de qualquer eventual direito, em prol dos herdeiros. Assinava a certidão de doação com toda a família, incluindo os parentes até segundo grau das noras.

A guerra limitar-se-ia ao âmbito dos quadrilheiros. Incapazes de compreender que alguém pudesse ficar com algo mais, desde logo fortificaram suas posições, com medo dos ataques dos outros.

Os ânimos ficaram ainda mais acirrados, quando perceberam que o acesso às contas suíças estava bloqueado, nada significando a documentação diante da inutilidade das identificações. Iniciou-se, então, profunda busca para se descobrirem as chaves dos cofres, os números dos depósitos e demais informações que lhes dariam a posse dos bens no exterior. Como nada se encontrava e à vista do desaparecimento de diversos assessores diretos do pai, concluiu-se que os roteiros para a obtenção daqueles recursos só poderiam ter ficado com eles. Essa foi a guerra de morte declarada entre os vilões.

Enquanto isso, Alfredo dispunha de tudo, conforme já referido, deixando em aberto só uma conta com alguns milhões, para o caso de alguém conseguir localizar algum meio de liberalização. Resguardava-se, mesmo porque nenhuma necessidade tinha de tanto dinheiro.



Mas o aparecimento dos sobrinhos causou, junto à família de Carlos, profundo desgosto. Como pudera esconder a existência de três filhos? Mais ainda: com que dureza de coração omitira às mulheres a sua identidade e mantivera os filhos na ignorância de suas origens? Aliando a informação fornecida por Ângela às descobertas atuais, Carlos e família só poderiam julgar o irmão como monstro da pior espécie. Era de arrepiar.

Esse choque mais fazia com que o grupo intentasse buscar o apoio da espiritualidade, para dar curso ao projeto de socorro estabelecido por Ângela. Se Alfredo estivesse onde pensavam que merecia, deveria estar sofrendo os horrores do mais profundo do báratro. Tendo lido O Abismo, do irmão Ranieri, sabiam categorizar o plano de inferioridade em que jazeria a infeliz criatura, mesmo que houvesse interesse de Josineida em obter para o filho assistência condigna.

Nos poucos meses que mediaram a visita do irmão até o desenlace oficial, Carlos havia intentado, sem sucesso, contactá-lo. Foi nesse período que obteve diversas mensagens da mãe, a respeito da necessidade de apaziguar as ânsias da regeneração. Deixasse que Deus providenciaria o que fosse o melhor e mais justo. Tanto insistia nisso que Carlos, assim que se deu o “óbito”, desconfiou de que o destino do irmão era do conhecimento do etéreo.

Em sessão de doutrinação, consultou o espírito de Josineida para saber a respeito da dúvida, conseguindo dela tão-só palavras de estímulo e de confiança na misericórdia divina. O futuro estava nas mãos de Deus, mas o presente era bastante claro, para evidenciar quais poderiam ser os próximos passos a serem dados. Aguardasse que, um dia, ficaria sabendo através de que meios poderia auxiliar o irmão. Deixasse aos mortos a tarefa de enterrar os mortos. Cuidasse dos vivos, que esses lhe dariam muito em que pensar.

Carlos entendeu, nas palavras da mãe, o encaminhamento das preocupações para os cuidados que deveria prodigalizar aos sobrinhos, mas estes estavam muito distanciados de qualquer influenciação que pudesse exercer. Era missão quase impossível de concretizar-se. Dedicaria os próximos anos ao estudo da doutrina, aplicando-se especialmente ao entendimento das reações próprias das mentalidades criminosas. Para isso, buscou integrar-se em grupos de irmãos espíritas com o mister de prestar abnegada assistência aos encarcerados. Assistia a todas as palestras a respeito da psique do marginal, buscando caracterizar os anseios próprios daqueles que não têm nenhum respeito ou consideração pelos semelhantes.

Através dos estudos, dos debates e das análises que realizava em conjunto com a equipe de socorristas, esperava conhecer os métodos mais eficazes para aproximar-se dos sobrinhos. Antevia o dia em que o encontro iria acontecer e não lhe agradava a perspectiva de sentir-se despreparado.

Por outro lado, embora não lhe parecesse aceitável ver juntos os primos, tudo o que ia assimilando resumia para os filhos e a esposa, para o caso de vir a faltar. Achava possível a recuperação de todo ser humano, mas reconhecia que os criminosos ofereciam resistência para além do que seria justo esperar-se do só cumprimento dos deveres e obrigações socorristas. Conhecia algumas histórias de amigos abatidos por marginais, diante da confusão que se lhes estabelece nas mentes relativamente a perigos e ameaças.

— De que vale — perguntava — a morte do benfeitor, se isso só acrescerá no montante das dívidas do criminoso?

Cinco anos passados da morte do irmão, recebeu misteriosa carta de um tal de Jesualdo, do Mato Grosso do Sul, que queria participar a ele novas do falecido Alfredo. Intrigante missiva. Por que alguém tão distante conseguira contatar com o plano espiritual, quando se esfalfara inutilmente, com o mesmo fito?

A curiosidade levava-o a considerar a possibilidade de manter a correspondência. Quem sabe pudesse viajar até lá, para surpresa do missivista?! Tudo era possível...

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