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Erotico-->8. PÁGINA DE AMOR -- 26/07/2002 - 05:11 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Josineida e Nepomuceno entreolharam-se e entenderam-se. Preciso lhes seria desvendar os mistérios dos relacionamentos com as demais criaturas a eles ligadas pelo destino. Entretanto, o que normalmente seria mero cotejar de fichas e anotações guardadas nos arquivos, haveria de se descobrir “in loco”, no dia-a-dia do mourejar incessante de cada ser vinculado diretamente ao casal.

Até agora guardamos silêncio relativamente a Marcos, Carlos e Alfredo, suas esposas e filhos. A só citação que oferecemos aos leitores era indicativa de que havia certa revolta entre os filhos, embora desejassem aos progenitores toda a felicidade do mundo. Afastados da vida íntima do casal, só conseguiram aspirar a tê-los sob sua proteção na velhice. Mas o destino dispôs de modo diverso, levando cedo a mãezinha e deixando o pai entregue às suas rabugices e idiossincrasias. Após o falecimento do último, cada qual passou a cuidar exclusivamente de sua vida.

Marcos era hábil cirurgião plástico. Afamado pela facilidade do proceder técnico em prol da estesia física dos pacientes, fez fortuna de grande poder. Carlos, dos três, era o menos rico, embora suas atividades, no mesmo ramo do pai, deixassem larga margem de lucro, o suficiente para possuir casa de veraneio na praia, com iate e demais mordomias. Alfredo era o mais rico. Dono de oficina mecânica, instalou-se no ramo da revenda de automóveis e fez fortuna através do ágio que cobrava. Foi mais longe, estabeleceu vários grupos de consórcio, deu golpe na praça, aplicou o capital, ganhou na bolsa, devolveu sem correção o que havia recolhido de forma descabida, ofereceu ajustes por fora da recomendação judicial, afastou incômodo associado, deixando-o a ver navios, enfim, sem que a família suspeitasse, rematava as atividades com contrabando e narcotráfico. Mas era maneiroso, de sorte que o seu nome jamais ocupou o noticiário jornalístico, havendo até vítimas que saíam das negociatas com a impressão de o terem burlado.

Essas notícias foram do mais completo desagrado do casal. Imaginavam os filhos comerciantes e materialistas, embora pudessem oferecer à clientela honesta possibilidade de negócios. Dos três, o médico, Marcos, era o que lhes oferecia melhor possibilidade de acesso, pois era maleável no aspecto sentimental, dado a aventuras extraconjugais e a fazer concessões nos preços, desde que alguma compensação auferisse no âmbito dos impulsos eróticos.

É bem verdade que, aos quarenta e oito anos de idade, muito da fogosidade estava amainada, mas ainda aspirava a conquistar certa artista famosa, no ápice da glória, a qual lhe estava opondo séria resistência, com vistas a levá-lo definitivamente para o seu lado. Queria que se desfizesse da família.

O casal começou a trabalhar no sentido de conduzir o filho a compreender a responsabilidade que assumira em relação aos familiares, especialmente porque os netos entravam na fase da adolescência e se espojavam em alguns vícios rotineiros da juventude bem situada economicamente.

Nepomuceno examinou a possibilidade de alguma queda de motocicleta, algum acidente menor que pudesse oferecer ao pai oportunidade de trabalhar diretamente no restauro facial de alguns dos filhos. Foi impedido por Josineida, que não via como envolver os netos na recuperação. Por outro lado, haviam de considerar os planos estabelecidos previamente. Reconhecia que o marido havia progredido muito no saber espírita, mas estava muito verde para o socorrismo. Casos como o que imaginava realizar eram raríssimos e cercados de extremos cuidados dos diligentes protetores da espiritualidade maior. Para ela, talvez fosse mais fácil levar a nora a ingressar no espiritismo, através da descoberta das cartas que escrevera e que lhe poderiam ser entregues pela família do amigo Virgílio, que se prontificara a ajudar.

Aí Nepomuceno se opôs, dizendo-lhe que o sofrimento moral e físico do amigo poderia levar-lhe os familiares a desconfiarem de que nem tudo no espiritismo é feito com amor e mútua confiança. Deixasse ela os papéis perdidos para sempre.

Nesse meio tempo, surgiu-lhes a idéia de reunir os três irmãos ao derredor da mesa da confraternização espiritual, durante as noites de sono. Não sabiam como realizar a evocação, mas teriam certo tempo para planejar o expediente. Foram em busca de auxílio técnico, todavia, viram logo que a reunião oferecia obstáculos intransponíveis: era preciso congregar as entidades segundo o padrão vibratório comum, e eles não estavam aptos a realizar tão grande esforço fluídico, dada a pequenez de sua potencialidade energético-magnética. Aliás, até o conhecimento da terminologia lhes falecia.

Imaginaram-se voltando aos bancos escolares, mas desistiram logo pela perspectiva de que os cursos eram complexos demais e muitíssimo demorados. Havia urgência no socorro aos filhos.

Neste vaivém, Carlos se desentendeu com cliente do cartório, mediante proposta de propina para facilitar negócio escuso, e teve perfurado o abdômen por certeira facada. Não morreu, mas precisou internar-se por força do rompimento de várias paredes intestinais, tendo sido socorrido pelo irmão mais velho. Viu-se, ainda, em palpos de aranha com a justiça, pois o agressor, para defender-se, estabeleceu os princípios dos negócios e abriu campo para séria investigação policial. De repente, por intervenção de Alfredo, cuja influenciação política era bem superior à que imaginavam os irmãos, tudo foi abafado. As queixas foram retiradas, o flagrante foi relaxado, o processo arquivado e o “affaire” se resumiu em elevada soma em dinheiro distribuída por várias pessoas completamente corruptíveis. Até mesmo o agressor se viu dono de várias propriedades, conforme registro passado e assegurado.

Alfredo havia temido por suas atividades, pois muitas de suas posses se registraram fraudulentamente pelo cartório do irmão e uma devassa ali poderia revelar os secretos afazeres.

Mas os irmãos se reuniram em função da preocupação comum e isso foi aplaudido pelos pais como sendo perspectiva de promissora atividade socorrista. O que não entendiam, absolutamente, é como havia tanta facilidade de congraçamento em função do mal e nenhuma em proveito para crescimento moral e espiritual. Começavam a suspeitar de que aquelas criaturas deveriam ter-se agregado a eles como missão sua de soerguimento, muito maior do que supuseram em vida.

Estavam, assim, esperançosos de poderem chegar-se a eles por via intuitiva. Começariam por insuflar na mente de Carlos, obrigado a permanecer no leito por algum tempo, algumas idéias a respeito do carma, das leis de ação e reação, do princípio de causa e efeito, que, pensavam, propiciariam pesquisa consciencial para configuração dos porquês de sua aventura no campo da criminalidade.

De fato, conseguiram chegar bem perto do coração do filho, mas acesso não obtiveram para o fim almejado, pois as idéias de vingança pululavam prioritárias. Carlos queria ferir de morte o oponente. Principiaria por anular os registros cartorários, por meio de acusação junto ao fisco da impossibilidade de o desafeto possuir semelhantes bens, uma vez que os ganhos declarados eram insuficientes para a manutenção da condição de luxo e riqueza. Sabia que não conseguiria, ao sair do leito, realizar a acusação, mas era o lenitivo para a ânsia de desforra. Em momentos mais agudos, sonhava com o dia em que lamberia a lâmina no sangue do oponente, fazendo-o provar, definitivamente, a mesma dolorosa sensação que sentira.

Diante de tantas sombras mentais, Josineida e Nepomuceno afastaram-se sem qualquer possibilidade de contato. Ali, junto ao filho, eram verdadeiros estranhos. De repente, diante deles surgiu, por evocação, o quadro de sua vida à época do nascimento do segundo filho. A mãe estava em trabalho de parto, o filhinho mais velho brincava na sala, o pai, aflito, providenciava a presença do médico, impedido que se via de levar a esposa até o hospital, dia de cheia dos rios, de inundação, de chuva torrencial e de ventania. Chegara a completar a ligação salvadora, mas desconfiava de que, quando chegasse o doutor, a criança já teria nascido.

Velha serviçal da casa, muito estimada da família, prontificou-se a providenciar o recebimento da criança, esforçando-se por deixar todos tranqüilos, quando ela mesma não se agüentava nas pernas.

Nepomuceno via-se ao lado de Josineida, oferecendo-lhe conforto moral, com palavras de estímulo e de conforto. A criança nasceu após dores lancinantes, mas sem oferecer perigo à parturiente. Foi assim que aquela criatura havia aportado à vida, dando aos pais extrema aflição. Lembraram-se ambos que o sofrimento e a angústia haviam unido os três seres, ou melhor, os quatro, pois Marcos foi chamado a recepcionar o irmãozinho em meio às lágrimas de muito amor, que a pressão psicológica do momento de incerteza e insegurança havia ajudado a acentuar.

Lembravam-se da chegada ao mundo do primeiro, no hospital, na absoluta segurança de cesariana preventiva. É verdade que o desconforto posterior para o restabelecimento do corte era lembrança dolorida, mas a emoção da vinda do segundo filho fora muito pronunciada. Não estaria aí a indicação de que Carlos iria causar problemas bem maiores que Marcos?... Não havia embutida, na informação da dificuldade do parto, a notícia de que o filho fosse algum antigo desafeto que deveriam receber, agasalhar e conduzir para o bem?...

Recordaram-se da chegada de Alfredo. Haviam-se prevenido para que não mais Josineida engravidasse. A presença do feto anunciado pelo médico foi recebida com total desagrado pelo pai e com temores excessivos pela mãe. O último parto deixara marcas profundas na psique materna. Do medo passou à rejeição. Houvera necessidade de sério trabalho de recomposição mental. Despertaram, nesse instante, para o fato de que foi por aquela ocasião que Josineida principiara a peregrinação pelo espiritismo, à sombra do qual reconheceu que sua atitude em relação ao ser que lhe crescia no ventre poderia oferecer perigos cármicos para sua sobrevivência no campo material. No entanto, foi também junto aos amigos do centro que aprendeu a importância de dar guarida a todos os infelizes que a procurassem para, por sua mão, serem guiados ao caminho do bem.

Ambos viram na tela a suave chegada da terceira criatura, cercada de amplos cuidados médicos. Fora parto normal, sem riscos nem sofrimentos. Ao chegarem da maternidade, os cinco se abraçaram ternamente, cada qual vendo nos demais a inconteste presença do amor e da benquerença. Na tela, o quadro demonstrava claramente os elementos da energização sentimental e as vibrações envolventes, que se harmonizavam com os fluidos que se interpenetravam em suas organizações perispirituais, advindos de planos superiores. O quadro era perfeito retrato da felicidade.

Que ocorrera desde aquela época para tudo se modificar tão profundamente?

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