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Erotico-->7. PAPEL DE AMIGO -- 25/07/2002 - 07:19 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

A primeira conversa efetiva a respeito da doutrina espírita que Nepomuceno teve com alguém foi com Virgílio.

Em convalescença, em casa, tinha de ficar afastado de todas as preocupações por três meses, pelo menos. O facultativo era experimentado médium de seu círculo de amizades, de sorte que possível lhe foi expor à minúcia toda a angústia espiritual por estar há tanto tempo longe das atividades. Foi, assim, liberado, com restrições: poderia ir ao centro, mas deveria limitar o campo de atuação à audição de uma ou outra palestra ou ao comparecimento a reuniões de estudo.; não poderia participar das mesas de assistência direta a obsessores e obsidiados, nem aproximar-se demais das obras da caridade material. Assistisse às festas, mas se eximisse de cooperar.

Assim, puderam os dois aposentados manter longas conversações sobre os temas mais importantes. A respeito das mensagens captadas pela esposa do notário, Virgílio solicitou e obteve do amigo permissão para referir-se a elas em tese. Analisou o conteúdo doutrinário e viu-o perfeito. Avaliou da possibilidade de conter elementos verdadeiros a respeito de encarnes e reencarnes em núcleos familiares imutáveis e sentiu-as verossímeis. Adentrou nos aspectos sentimentais e morais e não teve obstáculos a opor à clareza das exposições. Quanto à procedência ou aos autores, quis manter silêncio, pois considerava de absoluta necessidade a consulta aos guias e era justamente disso que estava impedido. Poderia recomendar que Nepomuceno procurasse alguém capacitado a lhe dar informes seguros, mas acreditava que, se houvesse paciência da parte de ambos, chegariam a esclarecimentos definitivos. Afinal de contas, concluiu, o fim da vida não lhes estava tão distante que não pudessem derrogar a descoberta das verdades e das intenções para um pouco mais além.

Foi assim que se entenderam sobre ponto que, à primeira vista, poderia parecer crucial. Mas Nepomuceno já se compenetrara da importância do trabalho mediúnico e da assistência aos infelizes, de sorte que transferiu a curiosidade para época em que tudo decorresse segundo princípios consentâneos com as determinações de caráter doutrinal espírita. O que julgava urgente era integrar-se ao corpo de auxiliares dos serviçais do Senhor.



Passemos por sobre quinze anos de intensas atividades dos dois amigos junto ao Centro Espírita do Amor Divino. Trabalharam todo esse tempo como se amparados se sentissem pela benfazeja presença da saudosa criatura que tantas alegrias lhes havia proporcionado. De quando em quando, por meio de algum escrito oportuno ou na conclamação oficial do serviço de assistência aos desencarnados, Josineida se manifestava, a estimular o corpo de trabalhadores a reavivar a fé e a dedicar-se ao labor sacrificial com devotado arrojo. Ao amigo e ao esposo, deixava palavras especiais de muito afeto e de muito amor, de modo que a Nepomuceno não mais se caracterizava como necessário conhecer as pregressas atividades das anteriores peregrinações. Fosse o que fosse que tivesse havido, sendo ou não verdadeiras as narrativas, o que lhe parecia o mais importante era realizar o trabalho com o máximo de carinho e dedicação, pois convencera-se de que pelas obras é que seria medido e suas reais atividades só haviam principiado há bem pouco tempo.

Estava feliz realizando com tanto desprendimento as tarefas? Poderíamos dizer que sim, se não fora a sombra da saudade a toldar-lhe as alegrias íntimas.

Quanto aos demais membros da família, aceitavam a figura do avô com muita benevolência, embora o sentissem afastado afetivamente de todos. Cumpria as obrigações em relação aos familiares.; não se distribuía em amor. Condicionava cada mínimo gesto em torno de feridas antigas e incompreensíveis. Fazia-o maquinalmente, sem conhecimento íntimo das razões do procedimento. Mas, se se sabia distante, também possuía a certeza de que a atitude não tinha o condão de ferir ninguém, de forma que deixava mais este aspecto para resolver depois. Sabia que poderia vir a ter desagradáveis surpresas, mas via os filhos e netos bem encaminhados na vida, de sorte que procurava, antes, oferecer o apoio mais incondicional aos necessitados que se socorriam do centro. À família, dispunha tão-só de sua presença física, nas festas e demais atividades a que era convidado.

Certa feita, intentou fazer pregação ideológica de caráter espiritual, pois via os valores materiais prevalecerem, mas, diante da má vontade de todos, resolveu, espelhando-se em sua própria experiência, deixar para depois a condução dos filhos e netos para a verdade da doutrina de Kardec. Até mesmo a fórmula encontrada pela esposa, guardou-a em sigilo, para desvendá-la de maneira inteligente e oportuna. Imaginou que os filhos receberiam com desagrado ofertas de livros e, por isso, só lhes dava presentes que houvessem solicitado. Desse modo, nem a mãe houvera levado nenhum dos rebentos consigo para os quefazeres do centro, nem o pai se empenhava por fazê-lo.

Ao término desses quinze anos de atividades, Virgílio despediu-se da vida e ingressou no etéreo, em plena felicidade.

Vendo-se só, Nepomuceno começou a preocupar-se com a sua vez. Não tinha os mesmos problemas coronários do amigo, mas certa infestação microbiana, de repente, desalojou-o da carne, não lhe dando tempo para tomar as providências que desejara em relação ao convencimento dos filhos. Partiu sem ter deixado carta, bilhete ou telegrama de alerta. A psicografia da esposa se havia perdido entre os papéis do amigo, de sorte que a só robusta estante de livros é que legara, até mesmo sem constar do testamento. Feita a partilha dos bens, de comum acordo, foram as obras encaminhadas para reforço da biblioteca do centro, tendo sido este o último contacto da família com as atividades do pai. Cada qual abria a vida em leque de possibilidades.



Nepomuceno, no etéreo, inteirou-se logo dos compromissos que o levaram para aquele encarne. Sopesou o bem que fez, avaliou o mal que praticou, examinou os pontos falhos e concluiu que sua grande falta foi ter relegado a família ao esquecimento doutrinal. Salvava-o, finalmente, a preocupação que demonstrara tardiamente, de modo que lhe foi possível usufruir, desde logo, a companhia da esposa e dos amigos, dentre os quais avultava a figura rutilante do protetor e introdutor nas tarefas magnas do espiritismo, o caro Virgílio.

Da mesma forma que este se dedicara com estima a levá-lo às diretrizes mais dignas do procedimento dos encarnados, tendo em vista as normas elevadas das virtudes e da necessidade do crescimento moral, para a evolução do espírito, ainda no etéreo, Virgílio iria constituir-se em padrão vibratório a ser seguido pelo casal que voltava a unir-se indissoluvelmente. Achavam-se tão estreitamente ligados que não compreendiam como não haviam realizado matrimônios perfeitos, nas narrativas dos orientadores.

Virgílio foi quem se pôs a campo para esclarecer-lhes o enigma. Pareceu-lhe, desde logo, que a situação pudesse ter sido inventada, para insuflar na mente dos parceiros a idéia de procurar a solução do mistério junto às entidades que representavam, no plano espiritual, os beneficiadores.

Evocados os guias do casal, não se reconheceram autores do projeto, mas esclareceram toda a trama. Fora Josineida a autora exclusiva de todas as missivas. Em condições normais, não teria permitido ao próprio espírito liberar-se para a manifestação anímica dos impulsos conscienciais. Mas, em condições de desequilíbrio físico, sua organização mental sofreu abalos que ela resolvia fantasiosamente, de modo a elaborar, no fundo do inconsciente, histórias que vertia ao papel como se ditadas fossem por espíritos, como tantas vezes vira e praticara no recinto do centro. Daqui as letras e os estilos. Não houvera meios de detê-la, de modo que o remédio foi dar curso à programação por ela estabelecida, já que correspondia à situação cármica a que se destinara o marido. Por meio de algumas influenciações de caráter mediúnico-intuitiva, providenciaram para que desse tudo certo, conforme previsto nas cartas. A única exceção teria sido o infarto de Virgílio, que não ocorreria, não houvera ele concordado, em estado sonambúlico, com o sofrimento que o remeteria ao leito, para a configuração da pregação direta relativa a Nepomuceno.

À medida que os instrutores iam desfilando os acontecimentos, ia-se despertando a memória de cada personagem envolvida, de modo que, diante do protesto de Nepomuceno pelo sacrifício do amigo, se opôs este, explicando-lhe que unira traços do roteiro de sua vida, os quais lhe indicavam que deveria sofrer abalos físicos e que deveria realizar encaminhamentos morais. Nada havia para reclamar.; não se preocupasse, portanto.

Após todos os esclarecimentos, Virgílio notou que Nepomuceno mantinha ainda nítida a característica de sua personalidade que mais conhecera: aquela fugidia tristeza e aquele ar de que algo lhe faltava. Entabularam franca conversação e descobriram que Nepomuceno só se contentaria, deveras, diante de si mesmo, se conseguisse enviar aos filhos a notícia da vida após a morte, para que pudessem valorizar com correção os objetivos dos encarnes.

Consultada a respeito, Josineida optava por fazê-los entender a doutrina pelo amor.

Virgílio, entretanto, ponderou que esse sentimento nunca estivera extremado no coração do casal relativamente aos filhos. Reconhecia que ambos se amavam com ânsias de perfeição.; sabia que era estimado pelos dois de modo a integrarem-no no âmbito de suas existências.; não via, contudo, a mesma vibração quanto aos filhos. Deveriam, antes, adquirir verdadeiro amor por eles, para que se desse congraçamento energético capaz de captá-los para seu círculo. Saíssem a pesquisar a respeito dos anteriores relacionamentos e quais os compromissos verdadeiramente assumidos diante da espiritualidade superior, na forma estabelecida pelo amor de Deus. A sua peregrinação não terminara, no que dizia respeito à última encarnação. Eis delineado o campo de trabalho. Virgílio prometeu assistência, mas precisava cuidar de cumprir missões junto aos familiares. Ficassem na mão de Deus, na companhia dos orientadores.

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