Seu corpo passa.
Há uma concupiscência permanente no calor da tarde.
Seu corpo passa.
Meus olhos a procuram no silêncio das ruas.
Há pedras sob nossos pés.
Pedra e silêncio.
Um silêncio oco,
Grudado no reboco
Das casas vetustas.
Seu corpo passa.
Você passeio seu corpo.
Seu corpo que rebola
Nas passadas cadenciadas.
Meus olhos seguem seu corpo
Que se esconde na penumbra da esquina mais próxima.
Se eu fosse um cão
Pensaria na sua morte ou extinção,
Mas sei que você continua a passear seu corpo
Pelas ruas dos homens
Que o seguem com os olhos.
O desejo nasce nos olhos.
Suas nádegas sobem e descem
Num sincronismo perfeito.
Movimento senoidal e lascivo.
Por desejá-lo sinto-me vivo.
Na prancheta, uma curva vermelha.
Eu a olho de esguelha
Como faziam os antigos.
Seu corpo que rebola
Tenho-o ainda diante dos olhos
Quando se fecham para o sono.
No escuro dos meus olhos seu corpo
Que risca na tarde vermelha
Uma senóide.
BSB21012002