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Erotico-->Brasília amarela -- 22/12/2016 - 23:34 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Às dez da noite, Ramayana chegou numa brasília amarela, dirigida por Leonardo. O motorista tinha cara redonda e bigode de gato siamês. Pôs um olhar sensual  na corcova de camelo que Talita Ravenala  exibia no lugar das nádegas.

—Entre, minha deusa!...

Seus olhos eram apenas seus olhos e os dentes, ela não os mostrou. Não sorriu para ele, disse apenas, e secamente: ‘Boa-noite.’

Apreensiva, percebeu vermelhidão nos olhos de Ramayana  e nenhum decoro nas vestes. No lugar de roupa, tinha um toco de  blusa e uma  saia muito curta, que revelavam suas carnes vermelhas, como camarão-de-sete- barbas.

—Está quase chegando.

Gelou  assustada  com a visão que teve de mulheres tatuadas, seminuas fervilhando nas calçadas e portas de bares da Vila Mimosa. ‘Paga só dez reais  por um beijo. O serviço completo na cama é vinte.’ Os sete pecados capitais tremeram. Leonardo mordeu os freios, como se fosse acorrentar Ésquilo.

Ravenala  gritou:

— Pelas sete chagas de Jesus, não pare!

—Pare! — disse Ramayana. 

Lentamente o carro seguia, desviando-se de transeuntes. Os ferros da lataria espremiam-se e se estreitavam como se fossem massa de modelar, esgueirando-se entre as barracas, que ocupavam parte da rua. Na calçada dadireita, uma prostituta tirou a parte de cima e balançou os seios para Leonardo...'Vamos fazer amor, meu bem?...’ Distraído, o motorista atropelou um bêbado que atravessava a rua. Duas samaritanas arrastaram o corpo para a calçada, como quem puxa pela perna um porco morto. Uma delas meneou a cabeça: ‘Este aqui, amanhã tá fedendo!’

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