Bem ali, naquela casa abandonada, já houve amor.
A casa preparada para receber. Decoração simples,
um cheiro gostoso no ar. Da cozinha, vinha um perfume
de torta de maça, a fruta do pecado,
entretanto, preparada com gosto, e sem pecado algum.
Vinha a massa, um creme, as maças arrumadas com capricho,
uma cobertura dourada com canela e açucar, e um chantilly pra decorar.
A mulher, que antes se dedicava aos preparativos para agradar,
agora, detinha-se em preparar-se.
Tomava seu banho de sais, usava a colônia que seu homem apreciava.
Colocava um colar bem fino, e um brinco de pérolas.
Usava uma tornozeleira fininha, e na ponta um pequeno coração de brilhante.
arrumava os cabelos negros, penteados, e jogados de lado.
Estava pronta. Sentava no sofá à espera, e no toca discos antigo,
músicas boas, e igualmente antigas, em discos de vinil.
Enfim ele chegava, e depois de observar detidamente todos os preparativos para o encontro, segurava-a pela cintura e beija-a.
Perdiam-se os amantes, entre lençóis de cetim,
entre o desejo flamejante, e o calor do corpo na ânsia de se entregar.
Ali, bem ali, naquele instante, eram todo o desejo que existia no mundo,
colavam-se e entregavam-se com o desejo de ser um só.
Bocas que se mordiam suavemente, entre os beijos molhados.
Faziam das brincadeiras, sua maior diversão,
mas sabiam que estavam ali, para receber e dar amor.
Assim eles eram, naquela casa cheia de vida,
hoje, abandonada.