CERTAMENTE, RECEBER ALGO ASSIM, É NO MÍNIMO UMA LINDA EXPRESSÃO DE AMOR. OBRIGADA MAURO
VALENTINA FRAGA
DEIXE-ME ENTRAR
No umbral da casa, encosto
o corpo recém chegado
de longa viagem
e observo.
O que há por trás da porta,
o que há na sala,
em seus corredores,
nos cômodos íntimos
onde não se entra sem permissão?
Imagino
cada coisa em seu lugar,
a disposição dos móveis,
o cheiro peculiar,
a iluminação própria,
as janelas, as cortinas,
o piso.
A mesma casa
à espera
depois do longo tempo
em que estive longe.
Bato na porta,
suavemente,
sabendo que não devia bater,
que nem sequer devia estar lá
diante da porta fechada.
Bato suavemente
e aguardo.
Enquanto aguardo
vejo novas imagens.
Vejo o quarto, vejo a cama,
vejo os lençóis desalinhados,
vejo os corpos despidos
e se entrelaçando.
E ouço sons:
gemidos, sussurros,
bocas arfando.
E sinto o cheiro
que vem dos fluidos,
dos líquidos de cada um.
Nem sequer devia estar lá,
e as bocas se engolem
com beijos acumulados de espera.
Nem sequer devia estar lá,
e os braços se enroscam famintos.
Nem sequer devia estar lá,
e os bicos enrijecidos dos seios
tocam o peito másculo que os acolhe.
Nem sequer devia estar lá,
e as mãos dele passeiam por ela,
costas, nádegas, coxas, virilha, seios, clitóris,
e as mãos dela passeiam por ele,
peito, ombros, pescoço, braços, membro.
Nem sequer devia estar lá,
e os movimentos aumentam
e se intensificam.
Nem sequer devia estar lá,
e ela se abre, e ele a penetra,
e ambos se devoram
enlevados pelos mistérios gozosos do amor.
Nem sequer devia estar lá,
mas está.
E não quer sair.