Aceitei à santa promiscuidade
dos seus versos
- coisa que a poucos atrevi -
e não refutei tuas trovas,
as dei novo rumo
seguindo o imenso rio
devaneio
que foste para o meu mar
de desejos
por movimentos,
como que acarinhando a tez
da poetisa paralisada
diante da tela fria e quente.
Deitei-me sobre ti as rimas,
foguete lúdico de teus delírios noctívagos,
já desnudado de pudores,
ávido por poemas lascivos.
Arrepiei e ofertei outras estrofes,
amarrotadas e soltas,
apenas por praxe e subversão.
Deduzi teus enigmas,
roubei tua chave
imprensei meu corpo ao teu
e juntos ecoamos cantares de amigo,
camuflados na poeira e cosmo.
Pertences sim à minha fotografia,
sou fogo, sutileza, harmonia,
o mago que te roça e devora,
feito fera harmonizamos
o Adónis que te encoxa e a tocha
- o que te ama, clama, queixa,
teu colírio e teu delírio,
enfeitado de terra e tesão.
Engula-me de uma tragada só,
me envolve vulvedoce,
à galope sem acoite,
e permito-te profanar minha crença
com minha onipresença
onírica, etérea, atônita.
E tocar meu tórax,
mastreando meu ego,
desconstruindo minha matéria ,
postergando meu sono,
e sendo minha doce ilusão
de amor.
Convidei-te à intimidade
de meus versos
- coisa que a poucos permiti -
e duvidei de tuas trovas,
por momentos,
como que acintando os brios
do poeta ensimesmado.
Deitei-me em rimas,
deleite lírico de teus devaneios,
desnudando o ventre liso,
ávido por poemas tórridos.
Sorri e aceitei tuas estrofes,
marcada a pena,
apenas por prazer e saudade.
Seduzi tua métrica,
imprensei tua mão na minha
e juntos escrevemos épicos,
embalados por mar e maresia.
Pertenço à tua fotografia,
sou terra, quimera, alegoria,
a fada que te afaga e afoga,
a musa que te enrosca e dana
- a que te ama, chama, queima,
tua dor e tua teima,
enfeitada de fogo e paixão.
Bebe-me de um gole só,
me engole acredoce,
à galope e a coice,
e deixa-me profanar tua crença
com minha onipresença
onírica, etérea, atônita.
E tocar teu peito,
dilacerar teu ego,
construir teu vértice,
escalar tua vida,
e ser tua ilusão
de amor.