A mãe de Sara insistiu para que ela fosse estagiar com a gente porque era uma oportunidade de aprender um ofício e tomar um rumo na vida.
Como os pais eram separados e as férias escolares haviam chegado, não perdia uma oportunidade de ir para a balada e tomar umas e outras de vez em quando.
Nós a recebemos, explicamos o funcionamento administrativo da repartição, as regras a serem seguidas e o trabalho a ser realizado.
Mostrou-se interessada nas primeiras semanas, mas depois ficou dispersiva e arredia.
Com o avanço do verão, era flagrada dormindo, com a cabeça sobre os braços, enquanto sentada na escrivaninha, durante o horário de trabalho. Freqüentemente, queixava-se de tonturas e enjôos.
Apesar do calor, ia trabalhar de blusa de lã ou jaqueta própria para o inverno.
Como não sabíamos da sua vida pessoal e tratando-se de uma jovem, no final da adolescência,ficamos preocupados, imaginado que a moça deveria estar com um sério problema de saúde.
Conversamos com ela e sugerimos uma visita ao médico. Após uma batelada de exames, ela nos disse que o problema era anemia.
Apesar dos medicamentos, que acreditávamos que ela estivesse tomando, seus hábitos não mudaram.
Tivemos uma nova conversa, explicamos que o trabalho dela não estava rendendo o esperado e que, desse jeito, não teríamos como justificar a sua permanência quando da renovação do contrato.
Ela foi sincera. Não estava interessada em continuar como estagiária.
Comunicamos o fato ao setor de pessoal e, com o término do contrato, ela foi para casa.
A mãe de Sara nos procurou furiosa, querendo saber das razões pelas quais ela havia sido dispensada. Teria sido assediada e não cedera? Qual era o problema?
Explicamos a ela a situação vivida desde que a filha viera estagiar e que, não havia como justificar a sua permanência. Além do mais, ela havia manifestado desinteresse em continuar trabalhando com a gente.
A mãe de Sara continuou furiosa e não acreditando em uma palavra nossa, apesar da confirmação de várias testemunhas.
Não demorou muito, a verdade veio à tona: Sara estava grávida do namorado!
Após a balada, o clima esquentava, os desejos afluíam, sem nenhuma prevenção ou controle de natalidade. Daí o sono durante o expediente de trabalho e a blusa larga para “ocultar” os sintomas.
O bebê nasceu forte e saudável e, hoje, é o xodó da casa.
