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Erotico-->39. JURANDIR -- 05/03/2002 - 07:13 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Um dia, Jurandir apareceu no escritório da firma, com ares de profunda preocupação.

Foi recebido por Rosalinda, que disfarçou a curiosidade por tão inusitada visita:

— Com que então, o Doutor Jurandir, meu mui estimado genro, resolveu dignar-se a visitar o meu ambiente de trabalho. Que bons ventos o trazem?

O médico foi logo acomodando-se na cadeira que puxou para a frente da escrivaninha, expondo francamente o seu problema:

— Meu pai está caducando. Está com idéias de abrir mão do convênio médico que construiu com tanto custo. Quero saber se você está a par dos negócios que ele vem fazendo.

— O que eu sei é que, desde que assassinaram o Claudionor, há uns sete ou oito meses atrás, ele vem sacando de nossa conta conjunta quantias cada vez maiores. Sobre isso, eu conversei com ele, mas ele me pediu que tivesse paciência, pois era para cobrir duas ou três sentenças de indenização. Perguntei se a firma dele estava no vermelho, e ele me afirmou que todos os contratos se acham em dia e que a companhia seguradora vem dando cobertura aos inadimplentes.

— Como ele explicou as indenizações?

— Disse que se tratava de casos em que as parturientes faleceram, por imperícia dos médicos conveniados.

— Estou refazendo toda a contabilidade da clínica e não encontrei nada relativo a tais processos. Aliás, todos os processos em que se implicava o nome do convênio resultaram inócuos, tendo os pleiteantes que arcar com as custas.

— Pois o que eu sei é o que lhe disse. Se for outra coisa, ele está mentindo pra mim.

— Com certeza, está. O que consegui apurar é que ele mantém várias clínicas, em diferentes bairros, com atendimento gratuito para a população carente. Tenho um relatório que me fez um detetive em que constam freqüentes encontros com representantes do crime organizado.

— Jurandir, como sabemos, você melhor do que eu, essa gente costuma assumir as despesas, no máximo explorando os profissionais, que obrigam a trabalhar de graça.

— Acho que não é o caso. Eu mesmo já fui chamado a tratar de familiares de chefões, chefes e chefetes, nunca, porém, sem ser remunerado regiamente.

— Com relação aos familiares, é diferente. Estou falando da assistência médica à população em geral, justamente a que fica sob a proteção das quadrilhas.

— De acordo, mas quando se trata de sistema de saúde sob o auspício da bandidagem, pelo menos, os postos médicos ficam em prédios próprios. Meu pai está arcando com as despesas de aluguel e com o pagamento de todos os funcionários. Acho que está praticando caridade, curando como se fosse uma bênção de Deus ou um milagre de Jesus. Mas, se for isso, logo se verá sem dinheiro e até com dívidas, já que está procedendo a retiradas de sua conta.

— Agora que você está expondo essa faceta do problema, estou lembrando-me de que, no meu último romance, havia uma personagem que acabou imergindo nas trevas em profundo sofrimento, tudo porque, profissionalmente, agia com frieza, sem dar nenhum afeto à clientela, altamente interessado nos emolumentos. Você leu essa obra?

— Você sabe que tenho muito pouco tempo. Sempre que me vejo em casa, fico com Bianca, já que Beatriz alterna comigo muitos horários de trabalho.

— Diga a verdade: você não lê porque a minha filha não deixa entrar em casa nenhuma de minhas publicações.

— Isso é também verdade. Mas ela não tem como proibir-me de seguir nenhuma linha filosófica ou religiosa de minha convicção. Mas eu li muito pouco do que você escreveu, principalmente mensagens de consolação e apoio moral, as de auto-ajuda que estão na Internet.

— Voltemos a Aristides. Eu posso ter uma conversa com ele, mas seu pai costuma fazer um exame rigoroso de cada situação que enfrenta, diagnosticando sempre os males e receitando os remédios, isto para tudo o que faz na vida. Neste ponto, eu concordo com você em que ele esteja caducando. Mas é o jeito dele, desde que o conheço.

— Eu não vim trazer-lhe apenas um problema. Vim sugerir-lhe uma solução. Como ele já passou dos sessenta e vocês estão muito bem de vida, proponha-lhe a aposentadoria. Se ele sair de cena, não vai cair nessa esparrela de trabalhar sem lucro.

— Como ficariam as clínicas que você disse que ele mantém do próprio bolso?

— Correção: da sua bolsa...

— Ou isso.

— Eu assumo a responsabilidade de cumprir os objetivos dele, com a condição de que ele não interfira em nada.

— Mas você não vai querer ficar no prejuízo...

— Não tenho recursos para substituir a benemerência oficial. Então, vou combinar com aqueles chefões, chefes e chefetes para que faturem politicamente a assistência em seus bairros, conservando a estrutura original dos postos de saúde.

— Isso lhe parece correto?

— O que não pode é o povo ficar na mão, já que o poder constituído não promove tais serviços em áreas dominadas pelas organizações criminosas. Enquanto isso, as moléstias tendem a tornar-se endêmicas ou epidêmicas, pondo em risco toda a população.

— E se eu aplicasse minhas reservas, oficializando e subsidiando o plano clandestino de seu pai? Você teria algo contra?

— Desde que ele se aposente, não. Pelo que pude sentir, é muito alta a taxa de estresse do velho...

— Não chame seu pai de velho. Eu o que sou?

— Desculpe-me, querida sogrinha...

— Você me chamava de mãezona...

— Não brinque. Vim tratar de um tema sério, que é a saúde de meu pai. Se ele não se consulta comigo nem com nenhum colega nosso, quer dizer que não sabe exatamente a quantas andam suas taxas glicêmicas, seu teor salino, seus fluidos e plasmas sangüíneos...

— Em suma, doutor, Aristides está pela hora da morte...

— Eu só não lhe dou uma resposta malcriada, porque sei que você costuma disfarçar suas preocupações, jamais deixando de tomar as medidas cabíveis, em tempo oportuno. Saio com a consciência aliviada, mas continuo temeroso. Só vou ficar satisfeito, quando souber que sua entrevista com ele houver redundado em atitudes positivas de preservação da vida.

— Dê um abraço na Beatriz e passe-lhe o meu site na Internet. Você está sabendo que tenho um com meu nome, onde se acham todos os meus livros psicografados e através do qual converso com espíritas de todo o mundo?

— Quem me deu seu endereço foi Bianca. Ela admira muito a avó. Outro dia me perguntou se os espíritos não lhe ditam obras infanto-juvenis. Eu não soube o que dizer.

— Pode deixar que vou responder a ela por e-mail.

— E eu lhe prometo que vou ler aquele seu romance. É o mínimo que posso fazer para corresponder ao seu empenho junto ao meu pai.



Seis meses depois, todas as clínicas estavam registradas sob o nome de uma empresa só, exercendo Rosalinda o controle acionário, aplicando os dividendos segundo a lei. Aristides foi eleito presidente do conselho deliberativo e Jurandir passou a presidir a diretoria. Entretanto, corria à boca pequena entre a população que os narcotraficantes estavam lavando dinheiro, tendo em vista as significativas doações que a benemérita instituição contabilizava.


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