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Erotico-->14. FREDERICO -- 08/02/2002 - 14:21 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Acomodados numa saleta dos fundos do centro espírita, conversavam Rosalinda e Frederico, enquanto no salão principal um bom orador desenvolvia sua palestra para o auditório lotado.

Dizia a moça:

— Meu caro, você está com mais de quarenta, enquanto eu mal completei vinte e cinco. Eu sei que isto não significa muita coisa, quando as pessoas estão apaixonadas. Mas fiquei pensando que, um dia, eu teria quarenta e cinco e você, mais de sessenta, e isto não me agradou.

— Eu acho que a questão da idade deve ser mera desculpa para a nossa separação. Você está é com medo de conviver com uma pessoa cheia de problemas materiais.

Rosalinda lembrou-se da revelação da doença que levou o amigo a uma contagem muito pequena de espermatozóides no plasma seminal, o que lhe causou muito medo de magoá-lo, caso se referisse à verdadeira causa da deliberação que tomara. Em todo o caso, arriscou ser mais verdadeira:

— De fato, esses seus problemas já lhe causaram o transtorno de um divórcio.

— Mas minha mulher era uma ignorante. Hoje em dia, é muito comum as pessoas no meu caso conseguirem engravidar a esposa com a ajuda da Medicina. A inseminação artificial é largamente praticada. Eu acho que não foi isso que assustou você.

— Não foi. Mas você precisa de algo mais do que uma mulher compreensiva e carinhosa. Você precisa de ajuda especializada de um psicanalista ou psiquiatra. Eu sei que esse tratamento é demorado e muito caro, acima de suas posses, mas eu não quero ficar na expectativa de uma melhora ocasional.

— Mas você viu que eu tenho bom desempenho sexual. Pelo menos nos dois primeiros meses...

— Mas sua insistência em transar sem camisinha me revelou que está desejando um filho. Não é isso o que você mais quer na vida? Não é exatamente essa a sua frustração?

— Rosalinda, você fala com tal frieza...

— Estou sendo absolutamente sincera. Eu gosto muito de você. Quase tudo o que sei a respeito da doutrina espírita foi você quem me ensinou. Vou ficar com essa dívida para sempre. Mas você conseguiu esfriar o nosso relacionamento. Perdi a conta das vezes em que, por me recusar a transar sem proteção, você murchou e a gente ficou...

— Não fique falando as coisas tão diretamente aqui no centro que pode acontecer de aparecer alguém e não entender que a nossa intenção é a mais respeitosa possível.

— Só se for alguém hipócrita, como algumas pessoas...

— Não faça este tipo de crítica, por favor. Guarde as suas opiniões para você mesma.

— Está bem. Mas eu vou dar-lhe mais um conselho.

— Você está arrebentando comigo.

— Desculpe, meu bem. Mas alguém precisa abrir-lhe os olhos. Você teve um problema sério e procurou amparo nos amigos do centro espírita, com evidente intuito de ser inspirado pelos da espiritualidade. Mas o seu problema, apesar das conseqüências mentais, psicológicas, é eminentemente físico. Foi você mesmo quem me mostrou que os espíritos disseram a Kardec que as soluções espíritas só podem ser procuradas quando as pesquisas na área da matéria fracassarem.

— Você tem razão. A gente, muitas vezes, quer esconder o sol com a peneira.

— Como você não vai conseguir um analista barateiro e não quer dar o braço a torcer para a realidade, por que não encontra uma mulher frígida, que se contentará com a presença de um homem em casa, de um companheiro com quem conversar e até, quem sabe, deixar-se inseminar artificialmente?

— Só depois que eu me esquecer de você.

— O que não vai demorar, porque, quando meditar sobre as coisas que estou dizendo, vai acabar ficando com raiva de mim.

— Juro por Deus que não vou. Pelo menos, sou reconhecido por toda a atenção que você vem dando-me, compreendendo o meu drama e procurando não me ofender com palavras, embora as que venha usando sejam bastante pesadas para mim.

— Eu não posso deixar de avisá-lo quanto ao fato principal que me levou a este discurso de separação. Aliás, não é bem um discurso: é uma reação instintiva e definitiva...

— Não diga definitiva jamais. Você bem sabe que nós poderemos encontrar-nos na erraticidade ou numa outra encarnação, em condições bem diferentes. Se mantivermos a nossa amizade, é certo que vamos nos entender e desenvolver ainda mais os nossos sentimentos de afeto um pelo outro.

— Bem lembrado. Então, se eu lhe disser o que me levou a deixá-lo, você não vai ficar sentido comigo.

— Eu acho que já sei: é o seu medo de arrumar um amante que a satisfaça melhor do que eu, se é que já não arrumou.

— Não me ofenda. Se eu tivesse alguém em vista, você saberia até antes dele.

— Perdão, querida.

— A verdade é que eu também estou querendo um filho, mas o meu receio é que um filho seu acabe herdando o defeito congênito, o que me causaria um profundo desgosto.

— E os nossos guias e protetores? Você acha que eles vão permitir que uma coisa dessas aconteça?

— Eu não acredito na interferência dos espíritos para anular uma lei natural. De novo, foi você mesmo quem disse que as leis cósmicas se cumprem. Nem Deus faz milagres, porque não vai abolir as leis que ele mesmo estabeleceu. Eu acho que essa idéia sua é um dos preconceitos dos espíritas. Eles metem uma coisa na cabeça e deixam de pesquisar inclusive nas obras da codificação. Faz um ano, pouco mais ou menos, que estou vindo ouvir estas palestras. Mas consegui ler três das obras básicas. Gostei muito, porque levantam problemas e dão soluções racionais. Os que vêm dar aulas aqui é que não são tão positivos...

— De novo eu lhe peço para não despertar a atenção de alguém que poderia não entender a sua consideração e pensar que você está criticando o Espiritismo.

— Eu elogiei o Espiritismo. Se levanto alguma dúvida é quanto à pureza dos corações de algumas pessoas...

— Por favor, Rosalinda...

— Está certo. Eu não vou querer comprometê-lo, já que você não compartilha totalmente as minhas idéias.

— Eu compartilho mais do que você pensa. Mas todo trabalhador da casa espírita tem sempre de engolir uns sapos, partindo do pressuposto que ninguém é perfeito e que todos merecem consideração por sermos filhos do mesmo Pai.

— Há certos tipos de imperfeição que devem ser cuidadas com o máximo de atenção... O ditado da maçã podre que contamina as outras pode ser aplicada aqui. É por isso que eu acho que a minha maneira de pensar ainda não se coadunou com a sua. Talvez, quando eu for mais velha, fique mais paciente e consiga ter mais comiseração pelas pessoas que você chamou de imperfeitas. Se você tem esses seus problemas, eu também tive os meus, em vários relacionamentos fracassados e perigosos. Vamos apertar as mãos, numa boa, e continuarmos amigos, apesar de tudo. O que eu não quero é ter mais nenhuma intimidade com você.

— Vamos dar um tempo...

— Até a próxima encarnação, no mínimo.

Antes que Frederico pudesse dizer mais alguma coisa, Rosalinda retirou-se, deixando o pobre com uma porção de interrogações na cabeça.


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