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Erotico-->9. CLÓVIS -- 03/02/2002 - 06:25 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Sentados no restaurante, um diante do outro, enquanto esperavam ser servidos, Rosalinda olhava fixamente para o namorado, deixando-o até um tanto constrangido.

— Por que você não tira os olhos de mim?

— Clóvis, eu não queria que fosse assim, mas hoje nós vamos terminar.

— Você não gosta mais de mim...

— Ao contrário. Eu até que gosto de você, mas não podemos continuar e você sabe bem o porquê. Não me obrigue a descrever suas manobras para se aproximar de mim.

— Você não acha natural que a pessoa que se apaixona pela outra faça de tudo para conquistá-la?

— Você pensa que sou boba? Até que fui, durante seis meses, mas me abriram os olhos para suas atitudes. É melhor você não insistir. Vamos comer e depois cada um vai para o seu lado.

— Não têm sido bons os nossos momentos de amor?

— Mais ou menos.

— Não foi o que você sempre disse.

— Olhe aqui, Clóvis. Vamos deixar de palhaçada, ‘tá?!... Eu estou tendo muita consideração em despedi-lo numa boa. Não me obrigue a revelar tudo o que sei a seu respeito.

— Eu confesso que estou desempregado e que não disse nada a você para não preocupá-la.

— Por favor, não insista.

— Você acha que não tenho capacidade para arranjar outro emprego?

— Quando você entrou na loja como representante comercial, sabia muito bem o que estava pretendendo. E eu caí como um patinho. Você está de olho é no meu dinheiro. Quer viver comigo com renda suficiente para manter os seus vícios e os seus luxos. Pensa que não estou sabendo que você vinha explorando os seus pais, até que eles deram um basta e mandaram você embora de casa?

— Eles quiseram fazer um teste...

— Que teste, que nada! Eles ficaram desesperados com o desaparecimento de todas as jóias, quadros e outros objetos de valor que você queimou. Bem que eu desconfiei quando me ofereceu aquele fininho. Foi o seu erro fatal, porque até aquela hora eu não via nada de errado, apesar de me terem prevenido.

— Quem preveniu?

— Você quer saber mesmo?

— Foi a sua empregada.

— Ela também me deu uns conselhos, mas quem me abriu os olhos foi meu pai. Foi ele quem ligou para a firma para quem você dizia trabalhar e lá informaram que você não passou de um estágio de dois meses.

Naquele momento chegou a pizza, que foi servida pelo garçom juntamente com a garrafa de vinho tinto.

Nenhum dos dois, contudo, tocou nos talheres.

Clóvis mantinha os olhos esgazeados, incapazes de se confrontarem com o olhar persistente da moça. Finalmente, arriscou:

— Você já completou vinte anos, tem uma filha para criar e eu estou disposto a dar meu nome a você.

— Você está querendo dizer que eu não presto? Que não vou conseguir alguém melhor que esse traste que você é? Está muito enganado. No começo, eu me encantei com o seu jeito, com o seu sorriso, com o seu brinquinho moderno e até fiquei caída pela tatuagem no peito. Mas você é um egoísta. Do modo como está levando a vida, não vai demorar para enfrentar a polícia.

— Eu não sou nenhum bandido.

— Quem rouba os pais...

— Eu estava desesperado.

— E não está mais, só porque tem retirado dinheiro da minha bolsa, fingindo pagar as contas dos motéis?

— Vamos comer, meu bem. Eu acho que você vai melhorar...

— Isso é típico de você. Viu que está perdido e quer se aproveitar até o fim. Mas esta é a última refeição que eu vou pagar. É bom comer bastante, porque eu não vou mandar embrulhar a sobra.

A atitude do rapaz mudou completamente. Em vez da melifluidade dos gestos e da contenção das palavras, impregnou um sorriso sarcástico no rosto e, mesmo com a boca cheia, disse:

— É pena que as coisas estão acabando deste jeito. Eu tinha planos para o futuro. Vou ter de arrumar outra.

— Nem quando quer ser sincero você fala a verdade. O que você é é um cafajeste, doente mental.

— Pode me ofender à vontade. Mas o que você gozou comigo vai ficar no seu passado.

— Era o que eu estava esperando que dissesse. Assim, não vou ficar com remorso.

— Você é uma tontinha que qualquer um leva pra cama. Vamos lá saber quantos se aproveitaram de sua “liberalidade”.

— Você não tem nada com isso.

— Mas que você jurou que me amava, disso não vou me esquecer.

— Eu disse que achava que estava me apaixonando, o que é muito diferente. Amar mesmo, jamais. Você diz que me usou. Pois não sabe o quanto eu queria usar você. Mas não deu: você é muito fraco de cama.

— Não é o que as outras dizem.

— Elas estão iludidas pensando que você tem recursos, só porque mantém a roupa bem cuidada e está sempre usando perfume. Aposto que sua mãe é quem lava, escondida de seu pai.

— Já que você sabe tudo, fique sabendo que vai precisar fazer um exame de sangue. Eu sou soropositivo.

— Finalmente, um gesto nobre. Obrigado por me dizer o que eu já sabia. Esse exame, eu já fiz e deu negativo. Você não reparou que faz dois meses que a gente não transa? É que eu estava esperando o resultado do exame de esperma da camisinha que guardei e do meu exame de sangue.

O ar de superioridade desapareceu da fisionomia do rapaz. Abaixou a cabeça. Bebeu o último gole de vinho. Levantou-se da cadeira. Aproximou-se de Rosalinda. Beijou-a na testa e retirou-se, levando consigo a sua desgraça.

Diante do prato que permanecera intocado, Rosalinda deixou escorrer algumas lágrimas silenciosas, chamando a atenção das pessoas das outras mesas. Foi quando entraram o pai e o irmão para ampará-la.


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