Foi em uma noite qualquer, decerto,
O Destino vinha por uma rua afora,
Cansado de luar e não ter por perto
Um corpo que lhe fosse como aurora
(Famílias falavam de coisas antigas
Fechadas nas casas misteriosas
Dizia a avó, entre velhas cantigas
"Mulher tem de ser como as rosas")
(O avô, de vida longa e sem abalo
Sussurrava para atentos ouvidos
"Quando eu era novo e tinha cavalo
Ia em certa casa a ver meus sentidos")
Quem tirou o luar da menina deslumbrada?
Quem pôs a noite no fundo da sua retina?
Sem nem saber da vontade enluarada
O destino desejou sumir na neblina
Foi em uma noite qualquer, então,
Que ele pôs os dedos sobre um peito
E viu nascerem, debaixo da sua mão,
Os seios de uma mulher com trejeitos
Nessa noite, como se pensasse em amor
Ele percorreu, da vida, todas esquinas,
Achou-se, das flores e frutos, o senhor,
Aquele que planta e colhe sem campinas...
19.05.04
2h32min
Da leitura da crônica "As putas em pauta", de Lílian Maial.