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Erotico-->Gilda e a chuva que não pára -- 17/06/2004 - 02:37 (Vera Ione Molina) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Gilda corre até a janela do quarto. Correio, Correio, o grito do menino. Anoitece e a chuva abranda, mas o jornaleiro não conseguiu proteger bem o pacote. Alcança um exemplar úmido. Chove desde o início de abril. Em junho, a filha completará sete meses de gestação e pede a presença da mãe em Porto Alegre.
O jornal desprende um cheiro forte de tinta e papel molhado, fala da possibilidade de uma grande enchente, talvez semelhante à de 1873. Júlio não quer viajar, tem negócios importantes. Se ela pudesse tomar um trem sozinha. Ele parece pouco notar sua presença, talvez não sinta falta dela. Ciúmes de uma avó de quarenta e cinco anos ele não sentiria. Há tantos anos não faz cenas. Gilda passou a vida falando de olhos baixos, a saia mais comprida que a das outras senhoras. Chegar à janela? Era coisa de percanta. O cheiro do jornal está forte. Solta-o no chão e nesse movimento, o rosto refletido no espelho. Tranca a porta do quarto. Sente alguma coisa crescendo dentro dela. Se examina inteira. Nos olhos, aquele brilho que dominava o marido. Ele estremecia quando ela o encarava. Enlouquecia porque não a controlava com gritos. Gilda descobriu cedo que Julio temia a beleza dela, os cabelos claros, os olhos azuis, numa terra de gente cor de cuia. Nunca lhe permitiu usar maquiagem e ela não sentiu falta. Usava cores sóbrias, modelos discretos, mas sabia bem a figura que fazia nas recepções e nos bailes do clube.
Por que esses pensamentos depois de velha? Passa as mãos ao redor dos olhos procurando rugas. Fazia muito tempo que não se olhava assim. Se surpreende por não estar com uma pele viçosa. Desce as mãos até o pescoço. Dizem que é onde primeiro aparecem os sinais do tempo. Não é um pescoço de vinte anos, nem de trinta, mas está liso.
Por um instante pensa na filha, na suspeita do que ela deve ter feito antes do casamento. Se imagina tomando o lugar dela. Vai abrindo os botões da blusa, ela escorrega até o chão. Desabotoa a saia que desliza pelas coxas, enganchando nas ligas de elástico. A anágua cinzenta é curta, se desvencilha da saia. Os olhos estão da cor da anágua. Seria a hora da sesta, e Júlio fora chamado às pressas a um lugar bem longe. A filha montaria a cavalo para visitar uma amiga do campo lindeiro. Os empregados no galpão, a casa fechada.
O futuro genro me veria passar do banheiro para o meu quarto, a camisola vaporosa e longa, os bicos dos seios arrepiados como agora, os cabelos soltos. O meu perfume ficaria no ar. Ele seguiria o meu rastro. Eu deitaria, os olhos fechados. Ele abriria a porta bem devagarzinho e ficaria observando o meu sono. Tocaria os meus cabelos. Eu fingiria acordar suavemente. Ele ergueria o lençol e me acariciaria os seios, o ventre. Como eu podia ter aquela aparência? Qual a minha idade?
Fortes pancadas na porta. Gilda se veste às pressas e vai abrir. Júlio está furioso. Por que ela está trancada com o jornal? Sempre foi ele o primeiro a ler. Ela ri descontrolada imaginando o que ele faria se a encontrasse naquela situação que nunca aconteceu. Ele a fita como há anos atrás. Continua discutindo, tenta se impor.
Acho que ele sabe que eu me finjo de submissa e penso coisas terríveis. Ele tranca a porta a chave e continua falando. Tenho vontade de tirar a roupa de novo para ele prestar bem a atenção em mim, mas mas me assusta a idéia de que ele volte a sentir ciúme e me faça viver trancada em casa.
Ela finge um carinho e passa a mão nos cabelos e no peito dele e pensa na delícia de ser dona absoluta dos próprios pensamentos. Ele quer saber porque ela se fechou no quarto àquela hora. É a chuva, ela responde. Essa chuva que não pára me dá saudade de quando tu te interessavas por mim.
Júlio tira a própria roupa e Gilda tira a dela, até ficar de anágua. A cena é bem diferente da que ela tinha imaginado, mas o prazer e o sentimento de vitória serão iguais.
Vera Ione Molina
Homepage: www.veramolina.com.br
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